QUE TIPO DE LÍDER DEUS USA?
Quando pensamos em um líder, nosso foco recai sobre alguém "que convence seguidores de que pode resolver seus problemas de uma forma melhor e mais eficaz do que qualquer outra pessoa”. A compreensão do de que consiste a liderança, leva-nos a um indivíduo que reconhece os problemas, as dificuldades e as necessidades de um grupo. Ele ajuda a identificar o que está errado e lidera pessoas no caminho de soluções satisfatórias. Qualquer indivíduo que segue um bom líder vive confiantemente. O otimismo penetra qualquer grupo que é abençoado com uma liderança piedosa.
Um líder convence outras pessoas a segui-lo porque tem respostas e soluções. Ele sabe o caminho a seguir ou, pelo menos, convence seus seguidores de que é competente. Pouca ou nenhuma vantagem pode ser obtida pela elevação de alguém a uma posição de autoridade, se essa pessoa é nitidamente incapaz de convencer o grupo de que pode resolver seus problemas. Visto que um grupo sem líder sente-se instintivamente como se estivesse condenado, ele dará as boas-vindas a qualquer um que estiver disposto a indicar-lhe a saída. Este poderá ser um homem de Deus ou um patife ambicioso, um destruidor, ou alguém que determina o passo ideal. E será tolerado até que apareça um líder mais persuasivo. Esse tipo de líder administra precariamente em sistemas democráticos, mantendo seu poder através do medo e por ameaças. Fidel Castro talvez não tenha melhorado a vida de muitos cubanos, mas tem mostrado como o poder pode ser mantido através da força e do medo.
Para um líder guiar, precisa ter autoridade, tanto quanto um automóvel precisa de um motor para ser dirigido. Se o líder é escolhido desconsiderando-se os critérios de Deus e os valores bíblicos, o grupo e seus propósitos serão postos em perigo. Exemplo claro disso foram as trágicas conseqüências da escolha de Israel, para que Abimeleque reinasse sobre eles (Jz 9). A sua história sórdida demonstra o quão é importante fazer a escolha certa. A Bíblia oferece grandes exemplos de líderes escolhidos por Deus. Suas personalidades foram tão distintas quanto as suas faces e as suas biografias, no entanto, algumas características merecem uma consideração especial. A liderança depende de algumas qualidades e habilidades.
Exemplos Bíblicos de Homens Usados por Deus
José: Um Líder Ideal Moldado em uma Prova Severa de Rejeição
A famosa história bíblica de José apresenta-nos um homem humilde de princípios. O status de filho favorito que José tinha, em vez de fazê-lo orgulhoso e esnobe, despertou-lhe o desejo de viver à altura das expectativas de seus pais. Os sonhos que Deus dava a José convenceram-no não do fato de que de era muito bom para servir outras pessoas mas, ao contrário, de que Deus o tinha escolhido para uma tarefa especial. Quando seus irmãos venderam-no como escravo, em vez de nutrir um espírito de autocomiseração, José manteve sua atitude positiva. Deus duramente testou seus princípios, mas ele não vacilou. Embora a esposa de Potifar tenha tentado repetidamente seduzi-lo, José resistiu às suas investidas por causa de seu caráter bem desenvolvido. Mesmo sendo inocente, seu aprisionamento falhou na indução da ira escondida ou de um espírito vingativo. Enquanto o copeiro de faraó tinha esquecido de apelar por sua causa justa diante do rei, José continuou servindo a Deus, abnegado, na prisão. O desapontamento grosseiro diante da terrível injustiça não provocou nenhuma ferida destrutiva em seu espírito. O sofrimento desmerecido não produziu uma falta de confiança na providência de Deus.
José foi um homem tão incomum, que sua preparação, por Deus, para a liderança, pode ajudar pessoas que aspiram qualquer ministério que influencie outras pessoas. A seguir veremos algumas de suas grandes qualidades, necessárias a líderes bem sucedidos.
Destaca-se um senso de vocação indestrutível. Desde sua infância, José acalentou um senso de destino. A atenção especial do seu pai, intensificada pelos sonhos que José entendera serem dados por Deus, lançou os alicerces da responsabilidade e da maturidade. A vocação, para um cristão, é algo sério porque ele sabe que a vida não é sem propósito. Ele sabe, como José sabia, que Deus marcou a sua vida com um valor distinto. O "chamado" bíblico não concede meramente a uma pessoa o direito de regozijar-se na liberdade de escolha e no auto-desenvolvimento, mas obriga-a a beneficiar outras pessoas. Através do curso da sua vida, José nunca perdeu aquela certeza. Ele pôde confiantemente falar a seus irmãos bajuladores, que temiam por suas vidas após a morte de Jacó: "Não temais; porque, porventura, estou eu em lugar de Deus? Vós bem intentastes mal contra mim, porém Deus o tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar em vida a um povo grande" (Gn 50.19-20). Um profundo senso do chamado de Deus para servir outros deve marcar a vida dos líderes.
Deus, depois de moldar seu servo através de muitos sofrimentos e provas, finalmente elevou José à posição de primeiro ministro do Egito. Ele foi tirado das algemas da prisão para exercer autoridade absoluta sobre todo o Egito, ao lado do próprio faraó. Ele não foi motivado pelo poder ilimitado para despejar a vingança sobre seus irmãos invejosos ou da esposa mentirosa de Potifar. Ele chorou diante de seus irmãos enquanto eles pediam seu perdão. A liderança, de acordo com os parâmetros de Deus, não pode ser contaminada com a inveja e o ressentimento.
Examinando mais profundamente a vida de José, um líder escolhido por Deus, podemos ressaltar outras qualidades marcantes, como estrelas brilhando em uma noite sem nuvens. Stogdill sugeriu que perfis psicológicos, em si mesmos, dão pouca indicação do surgimento de um líder capacitado. Porém, em resumo, a vida de José era significativamente caracterizada pelo seguinte perfil:
Primeiro, ter capacidade e potencial indiscutíveis (inteligência, atenção, facilidade de se comunicar, originalidade, julgamento). José demonstrou todas essas qualidades durante sua vida. Ambos, Potifar e o faraó, imediatamente reconheceram em José uma pessoa dotada e incomum. A confiança deles acabou sendo bem fundamentada.
Segundo, realização requer sabedoria, conhecimento e consumação. Ainda que não tenhamos qualquer idéia sobre a formação acadêmica de José, não há dúvida alguma com relação à sua habilidade de administrar o armazenamento da colheita e o seu programa de distribuição.
Terceiro, ter uma responsabilidade irrefutável (confiança, iniciativa, persistência, auto confiança, desejo de vencer). Sem ter dado atenção aos detalhes e a integridade, José raramente poderia ter manejado o imenso e complexo trabalho ordenado pelo faraó.
Quarto, ter uma participação direta (atividade, sociabilidade, cooperação, adaptação). Claramente, José tomou parte no processo de implementação de um programa nacional estabelecido para evitar a fome sobre a nação. A mudança de longos anos em uma prisão para uma alta posição governamental, requer mais do que uma pequena dose de adaptação. A sociabilidade e a cooperação foram o seu pão de cada dia. A participação direta fez com que o programa fosse bem-sucedido.
Quinto, ter um status integrado (posição socioeconômica, popularidade). A popularidade de José em todas as esferas Sociais e econômicas em que Deus o tinha colocado, brilha através das linhas da narrativa de Gênesis. Embora seja verdade que a falta de popularidade entre seus irmãos fosse gerada pela inveja destes, não houve hostilidade alguma da parte de José que encorajasse essa animosidade destes. Obviamente, líderes que carecem popularidade precisam implementar força.
Sexto, estar em uma situação ordenada por Deus (habilidade mental, experiências, necessidades e interesses de seguidores, objetivos para serem alcançados e tarefas para serem realizadas). Durante sua longa vida, José demonstrou uma habilidade incrível de manejar as tarefas a ele apresentadas. Não há sugestão alguma de que ele sentiu-se derrotado completamente pela situação que Deus colocara diante dele.
José ilustra como as circunstâncias e as capacidades para liderar combinam-se na formação de líderes marcantes. Como Stogdill escreveu: "A evidência forte indica que habilidades diferentes de liderança e as peculiaridades são exigidas em situações diferentes. Os comportamentos e as peculiaridades que capacitam um criminoso para ganhar e manter o controle sobre uma quadrilha não são as mesmas que capacitam um líder religioso para formar e manter um grupo de seguidores. Contudo, algumas qualidades gerais como a coragem, a firmeza e a convicção parecem caracterizar ambos".[1]
Notavelmente sociável e articulado, José atraiu atenção, independentemente de sua posição servil, como escravo na casa de Potifar. Que outra razão teria uma pessoa de alta-classe, esposa de um oficial, para seduzi-lo? Sua adaptabilidade brilha durante toda a narrativa de Gênesis. Como um escravo em uma casa, como um prisioneiro na cadeia ou como o primeiro ministro do país, José conduziu as suas responsabilidades naturalmente. Ele deu a impressão de que havia sido especialmente treinado para as diversas atividades que realizara. Sua responsabilidade brilha adiante, como um diamante polido no meio de seixos.
Em todas as tarefas que era obrigado a fazer, ele sempre inspirava confiança. José foi elevado ao topo por causa da peculiaridade de seu caráter. Desse modo é que um líder deve demonstrar sua capacidade. Ele pode confiantemente levar adiante as responsabilidades pesadas pertinentes à liderança.
Sua auto confiança não deve ser entendida como mera segurança de que ele poderá realizar com êxito qualquer exigência que for posta diante dele. José foi mais do que um administrador habilidoso e capacitado. Ele demonstrou em sua conduta que era um homem que tinha completa confiança em Deus. Paulo descreveu essa atitude assim: "Tudo posso naquele que me fortalece" (Fp 4.13). Um líder piedoso precisa possuir este tipo de atitude, não em si mesmo, mas naquele que é totalmente confiável: Deus. José foi elevado ao topo por causa de qualidades marcantes que um bom líder necessita ter.
Moisés: um Homem Preparado e Usado por Deus
O potencial da liderança de Moisés teve origem na criatividade de sua família (Hb 11.23). Quando recusara aceitar o status de neto do Faraó, ele demonstrou firmeza e convicção (v.24). Ele escolheu ser maltratado e alienado, em vez de permanecer no conforto e na segurança do palácio. Moisés expressou sua segurança pessoal de um homem que reconhecera que Deus o tinha separado à parte para uma missão especial (vv. 25,26). Sem medo perante a ira do rei, nem imprudência, demonstrou fé nas promessas de Deus, as quais o mantiveram cativo a Deus e seus propósitos por quarenta anos no deserto. Deus testou a paciência de Moisés severamente, enquanto assistia sua vida mergulhando nas areias do deserto, aparentemente, sem nenhum alvo desafiador ou resultados marcantes que pudessem virar história. Quando Deus, finalmente, o chamara para abandonar o pastoreio das ovelhas do seu sogro, para assumir uma posição ímpar de pastor da nação de Israel e libertar o povo do cativeiro, Moisés tentou escapar dessa responsabilidade. Deus superou sua relutância natural, devido ao seu impedimento de falar, para que, por fim, ele comunicasse bravamente a vontade de Deus ao Faraó, ainda que naquele momento isso pudesse custar sua própria vida.
Moisés demonstrou incríveis qualidades de liderança durante os quarenta anos de jornada pelo deserto. A paciência, a preocupação pela glória de Deus e a perseverança são as qualidades que especialmente se sobressaem. Quase que com a mesma importância foram a sua coragem perante o perigo, a sua criatividade perante a rebeldia e a sua mansidão diante de tribulações. Todos esses elementos de liderança de alta qualidade são manifestos em Moisés. Sua fama, depois de milhares de anos, eleva-o ao nível de um dos mais extraordinários líderes de todos os tempos.
A atual análise de liderança mostra que as excelentes qualidades que Moisés apresentara são tão necessárias hoje quanto elas foram três mil anos atrás. Alguns líderes desenvolvem certos valores de âmbito pessoal. Por exemplo, James J. Cribbin enfatizou a seguinte lista de traços:[2]
A. Desempenho Atual: É a habilidade de desempenhar bem as funções na posição atual que uma pessoa se encontra. Moisés recebeu o melhor treinamento e educação disponível no Egito. Como pastor das ovelhas de Jetro, ele foi completamente confiável.
B. Iniciativa: É a habilidade de ser um "auto-iniciador". Moisés tomou sua posição ao lado dos rejeitados escravos hebreus contra o mestre-de-obra egípcio que batia em um companheiro hebreu. Caso não tivesse a fibra de um líder, certamente, Moisés não poderia ter escolhido se identificar com os oprimidos e ter assassinado o opressor (Ex 2.12-13).
C. Aceitação: É a habilidade de ganhar respeito e vencer a confiança de outras pessoas. Moisés levantou a questão de aceitação pelos israelitas desde o começo. Ele sabia que quarenta anos passados no deserto do Sinai, tomando conta de ovelhas, não era a experiência que a maioria consideraria como algo essencial à liderança (Ex. 3.11). Deus usara de pragas e da função mediadora de Moisés, infligindo aqueles julgamentos milagrosos, para ganhar o respeito dos egípcios e também o dos israelitas.
D. Comunicação: É a habilidade de articular claramente o propósito e os alvos do grupo. Embora Moisés acreditasse que não tinha eloqüência, tendo sido afligido com uma "boca pesada” (Ex 4.10) durante o curso de sua vida, ele exibiu uma habilidade de comunicação incomum. A habilidade "de ter acesso" às pessoas em vários níveis precisa fazer parte das funções de um líder. Em várias ocasiões, Moisés teve que responder às murmurações e as incredulidades dos israelitas com argumentos válidos e decisões persuasivas. Mais importante ainda, ele foi especialmente perito em comunicar-se com Deus. Considere a exposição do autor da conclusão de DeUteronômio: "Nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, com quem o SENHOR houvesse tratado face a face" (Dt 34.10). Um homem de oração é a exigência básica para a liderança cristã.
E. Análise e discernimento: É a habilidade de alcançar conclusões idôneas baseadas na evidência. Moisés julgou corretamente a criação do bezerro de ouro, e a sua adoração, como repúdio a Deus. De alguma forma, Arão não demonstrou a habilidade para analisar o pedido da liderança israelita. Sua análise foi tristemente prejudicada pela falta de discernimento, de tal forma, que coincidiu com os desejos deles sem qualquer reação negativa (Ex 32.1-6). Como um líder deficiente, Arão trouxe destruição à nação. O resultado foi o caos espiritual, e milhares morreram como conseqüência.
F. Realização: É a quantidade e a qualidade de trabalho produzido através do uso efetivo do tempo. Mais uma vez Moisés se sobressai nessa categoria. Foi ele que, não somente liderou o povo para fora do Egito, mas também, deu a Lei, o tabernáculo e as cerimônias pelas quais Israel tinha que se aproximar de Deus e conhecer a sua vontade.
G. Flexibilidade: É a habilidade de adaptar-se a mudanças e de ajustar-se ao inesperado. De um príncipe honrado na corte do faraó, a um pastor insignificante no Sinai, até um porta-voz de Deus e líder de uma nação, Moisés demonstrou tremenda adaptabilidade. Sua humildade ímpar o fez verdadeiramente maleável nas curvas e travessas do caminho que Deus colocara perante ele.
H. Objetividade: É a habilidade para controlar sentimentos pessoais, uma mente aberta. A reação de Moisés, à sugestão de Deus que ele haveria de destruir Israel da face da terra e fazer de Moisés uma grande nação, demonstra como este era destituído de sentimentos pessoais e de ambições orgulhosas (Ex 32.11-13). Uma breve reflexão mostrará que cada uma dessas oito características foram refletidas na liderança de Moisés.
Um estudo supervisionado pelo Fuller School of World Mission em Pasadena, na Califórnia avaliou 900 líderes de igrejas do passado e do presente, na esperança de descobrir quais os comportamentos básicos que melhor podiam explicar sua eficiência. A primeira convicção desses líderes afirma que eles acreditam que a autoridade espiritual é um princípio básico do poder espiritual. Já que o impacto de uma vida flui do poder espiritual de um homem, é necessário esclarecer que aqueles que têm melhor servido a Deus são aqueles que têm vivido em relacionamento mais íntimo com ele. Moisés alimentou sua intimidade com Deus através da oração, da comunhão e da obediência.
Sabemos muito pouco sobre a mãe de Moisés para tecermos comentários sobre o seu impacto na vida do filho. Podemos ter. certeza, porém, que sua criatividade, livrando a vida de seu filho (Ex. 2.3,4), e a coragem que ela demonstrou aceitando a responsabilidade de criá-lo para a princesa egípcia, foram fatores primordiais na formação do caráter de Moisés. Será que podemos justificar a criação de um paralelo entre a mãe de Moisés e Susanna Wesley que teve um impacto no mundo através da influência que ela exerceu nos seus filhos, John e Charles Wesley, os fundadores do Metodismo do século XVIII, na Inglaterra?
Os segredos da criação dos filhos de Susanna foram resumidos da seguinte forma:
1. Ela ensinou autoridade, pela sua reverência.
2. Ela ensinou domínio, pela sua satisfação.
3. Ela ensinou sucesso, pela sua criatividade.
4. Ela ensinou sofrimento, pela sua tolerância.
5. Ela ensinou responsabilidade, pela sua regularidade.
6. Ela ensinou disciplina, pela sua bondade.
7. Ela ensinou liberdade, pela sua lealdade.
8. Ela ensinou planejamento, pela sua determinação.
9. Ela ensinou propósito, pela sua fé.
10. Ela ensinou liderança, pela sua iniciativa.
11. Ela ensinou vitória, pelo amor.
12. Ela ensinou domínio, pela sua segurança.
13. Ela ensinou liberdade, pela sua virtude.
14. Ela ensinou responsabilidade, pela sua firmeza.
15. Ela ensinou alegria, pela sua alegria.
É verdade que não podemos saber completamente como a mãe de Moisés demonstrou essas virtudes. Porém, podemos ter uma idéia de que as qualidades que o escolhido de Deus apresentara durante os quarenta anos de exaustivos desafios e tribulações, foram instiladas por um tipo de retaguarda que ele e os Wesleys receberam. Os primeiros sete anos de vida de uma criança são os mais cruciais na formação da sua personalidade.
Será que as mães estão instilando qualidades de caráter bíblico em suas crianças? Qual a influência que a televisão e os filmes têm em nossos jovens? Será que eles estão sendo moldados para o serviço de Deus, líderes que guiarão a Igreja e as organizações cristãs para o próximo milênio de forma bem-sucedida?
Davi: um Homem Humilde de Coragem e Determinação
Davi irradia-se das páginas das Escrituras como um modelo de liderança hábil. Mesmo antes de alcançar a idade normal de maturidade, bravamente desafiou um urso ou um leão para recuperar uma ovelha de sua boca (1 Sm 17.35). Com coragem inspirada pela fé no Deus Todo-Poderoso, Davi pediu o privilégio de lutar com Golias. Embora não tivesse experiência de batalha, nem treinamento especial, sentiu a confiança que somente Deus dá para aqueles que ele seleciona para carregar o seu estandarte e enfrentar a morte que o ameaçava. Combinado com uma aparente coragem imprudente, podemos encontrar em Davi um homem que elevou sua lealdade de rei ungido de Deus para um nível raramente visto. Não importa que Saul fora tão instável quanto a água, ou que mentira constantemente por causa de seu medo invejoso e infundado de que Davi estava conspirando para derrubá-lo. Mesmo sabendo que Deus o tinha escolhido para substituir Saul como rei, Davi, ainda sim, apoiou o líder constituído da nação.
Davi repetidamente demonstrou versatilidade nos anos que fugira e escondera-se da ira mortal do rei Saul. Quer evitando a fome, comendo o pão da Presença (lSm 21.1-9), fingindo loucura na presença de Áquis em
Gate ou cortando um pedaço da orla do manto de Saul para provar que não tinha nenhuma intenção má, Davi consistentemente inspirou confiança em seus seguidores e à nação, como um todo.
Uma dose impressionante de humildade coexistiu com a coragem e a determinação de Davi. Quando a notícia da morte de Saul o alcançou, ele deu um exemplo de tristeza genuína em seu ato, rasgando suas vestes, pranteando, jejuando e chorando por seu inimigo caído. Quando o profeta Natã repreendeu seus pecados de adultério e assassinato, não reagiu em fúria e autodefesa, mas com uma convicção de coração partido e de arrependimento. O Salmo 51 revela como Davi sentiu profundamente as feridas de sua consciência. Qualquer líder que é inclinado a arrepender-se superficialmente não é digno de sua posição como um modelo exemplar. Davi amou intensamente seu filho Absalão, mesmo depois da desprezível rebelião que ele levantara contra seu pai. Joabe sabia que Absalão não merecia viver, mas intensifica a aflição de Davi diante da notícia de que o seu filho rebelde estava morto. O poder e a fama não fizeram Davi insensível às outras pessoas.
Davi deu valor à justiça. Considere a maneira que ele desafiou a prática de distribuição dos despojos da batalha entre os homens. Ele se assegurou de que os homens fracos recebessem um montante igual e justo.
Robert Clinton desenvolveu idéias novas em relação à forma pela qual Deus desenvolve líderes segundo o seu próprio coração. Eles são padrões que descrevem uma idéia geral, providenciando uma estrutura, um tipo de esboço da vida de uma pessoa.
Primeiro, de significado especial, são os traços da personalidade que fazem uma pessoa ser o que ela é. Alguns traços são natos, e outros são formados através da disciplina familiar e da transferência de valores.
Segundo, são os processos que movem uma pessoa ao decorrer de sua vida. Os eventos, as pessoas e as circunstâncias afetam as atitudes e produzem reações que as pessoas desenvolvem desde o nascimento até a morte. Enquanto uma pessoa amadurece, ela aprende através da experiência e da reflexão. A leitura, o estudo e a discussão afetam no processo que transforma um jovem imprudente em um líder respeitado. Paulo adverte Timóteo para não ordenar um irmão que seja “neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condena~]ao do diabo " (1 Tm 3.6). Quando o processo necessário de testes e de tropeços da vida são bem sucedidos, um líder em potencial pode mover-se ao serviço sem colocar em perigo a vida do grupo.
Finalmente, é preciso considerar os princípios, isto é, as verdades fundamentais que servem como as raízes de uma árvore ou os alicerces de um edifício, mantendo-o firme em tempestades e terremotos. O pastor Warren Wiersbe, antigo pastor da Moody Church em Chicago, e autor bem conhecido, escreveu o seguinte sobre princípios: "Em relação à única coisa que eu me lembro de uma das minhas aulas de seminário é uma estrofe de uma poesia que um professor cansado apresentou no meio de uma aula monótona:
'Os métodos são muitos,
e poucos os princípios.
Os métodos sempre mudam,
mas nunca os princípios'.
Aquela convicção levou-me a uma vida incessante à busca de princípios, as verdades fundamentais que nunca mudam, mas sempre têm um novo preceito atrás deles. Aprendi avaliar homens e ministérios baseado nos princípios que os motivaram, e também baseado no fruto que eles produziram".[3]
Uma liderança sem princípios é como um navio sem bússola. Liderança sem o processo de experiência é como um navio sem o capitão. Liderança sem um padrão é como um navio sem um destino ou porto seguro.
Davi demonstrara o padrão da sua vida nos Salmos. Como um exemplo, veja suas palavras: "Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água. Assim, eu te contemplo no santuário, para ver a tua força e a tua glória" (63.1-2). A inclinação de seu coração repousava-se em Deus. Esta foi sua disposição, um ardente almejo da intimidade com Deus, que é refletido em muitos Salmos compostos por Davi.
A biografia bíblica de Davi revela o processo pelo qual Deus elevou esse jovem a uma estatura de proeminência mundial. Nos olhos de seu pai era improvável que Davi se tornasse um líder da nação, tanto que Samuel teve que perguntar a Jessé se ele não tinha outro filho que Deus pudesse indicar como sua escolha. Não havia nem passado por sua mente que Davi pudesse vir a ser ungido como o futuro rei de Israel (lSm 16.11-13).
O desempenho de Davi sobre a nação foi um modelo criado pela sabedoria e poder aplicados ao governo. Entre os princípios proeminentes exemplificados por Davi, o primeiro que podemos fazer menção é integridade, incluindo as virtudes de honestidade e de veracidade. Enquanto Saul tinha como características pessoais a desonestidade e a insegurança, Davi, desde a sua mocidade, buscava vencer a tentação da hipocrisia e duplicidade. Spurgeon estava certo quando disse a seus alunos ministeriais: "Um ministro de Cristo deve ter sua língua, seu coração e suas mãos em concordância".[4]
Segundo, a confiabilidade, uma faceta da integridade, caracterizava-o. Davi fez da confiabilidade, uma regra para sua vida para cumprir suas promessas. Lembre do caso de Mefibosete, filho de Jônatas, que recebeu de volta toda a terra que pertencia a Saul, e comeu na mesa do rei (2Sm 9.7). Nestes dias em que manter promessas não é mais considerado uma obrigação solene, as ações de Davi desafiam os cristãos de hoje a terem responsabilidade.
Terceiro, observe o princípio de justiça. O insensato Nabal quase perdera sua cabeça por não reconhecer que a liderança de Davi baseava-se em um senso vital de justiça (lSm 25), em vez de subornos, favoritismos e "panelinhas". O general Joabe, que servira Davi tão habilmente nas batalhas, mas que pecava na falta deste princípio crucial de orientar sua vida pela justiça, finalmente perdeu sua vida como uma conseqüência da falta de justiça.
Quarto, note o princípio de humildade que fez de Davi um homem segundo o coração de Deus. Quando três dos seus valentes romperam pelo arraial dos filisteus para tirar água da cisterna que estava junto à porta de Belém, para que Davi bebesse, Davi não bebeu da água (2Sm 23.15-17). Como um grande líder como foi, Davi não se considerou digno de beber da água que foi tirada com o risco de vida para satisfazer seu desejo caprichoso da água especial de Belém.
Conclusão
Muitos outros exemplos de princípios de liderança poderiam ser extraídos das histórias da vida de homens proeminentes do Antigo Testamento. Porém, esses exemplos apresentados devem ser suficientes para destacar o significado do caráter e da maturidade espiritual nas vidas daqueles que Deus escolhera para servi-lo como líderes. As circunstâncias de hoje são radicalmente diferentes daquelas que envolviam a vida de José, Moisés e Davi, mas, os princípios e verdades que governaram suas ações e atitudes, ainda podem ser mantidas como verdadeiras para os dias de hoje.
[1] Ralph M. Stogdill, A Handbook of Leadership: A Survey ofTheory and Research New York: Free Press, 1981, citado em in A. O'Souza, Being a Leader, Singapore: Haggai lnstitute, 1986, p. 14, 15.
[2] D' Souza pode nos ajudar nesse ponto (p. 15-16).
[3] Warren Wiersbe, "Principies" in Leadership Magazine, Winter, Vol. 1, no. 1, 1980, p. 81, citado em]. R. Clinton, The Making o/a Leader, Colorado Springs: Navpress, 1988, pp.42, 43).
[4] C.H. Spurgeon, Lectures to My Studentes, G. Rapids: Zondervan, 1972 (em português: “Lições aos Meus Alunos”, São Paulo, PES), citado por P. Borthwick, op cit, p. 27.
[5] A conhecida assersão de Lord Acton, veja E. B. Habecker, The Other Side of Leadership, Wheaton, IL: Victor Books, 1987, p. 36.
[6] Speaker´s Sourcebook, ed. Eleanor Doan, Grand Rapids: Zondervan, 1960, p;142.
[7] John Haggai, op. Cit., p. 39.
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FONTE: líder que Deus usa - Resgatando a Liderança Bíblica para a Igreja no Novo Milênio - RUSSELL P. SHEDD
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