Seminário
Teológico do Betel Brasileiro e Ação Evangélica
Curso: Superior em Teologia
Semestre:
2012.1
Disciplina:
Análise
de Romanos
Professor:
Gildelânio
da Silva
Aluna:
Umbelina
Rodrigues de Sousa
FICHAMENTO
DO COMENTÁRIO BÍBLICO DO LIVRO DE ROMANOS
(COMENTÁRIO
BÍBLICO VIDA NOVA)
Campina
Grande-PB
Junho
- 2012
FICHAMENTO
DO COMENTÁRIO BÍBLICO DO LIVRO DE ROMANOS
(COMENTÁRIO
BÍBLICO VIDA NOVA)
Segundo Douglas J. Moo, autor deste
Comentário Bíblico a Carta de Paulo aos Romanos é um dos mais importantes
documentos teológicos já inscritos, a sua influencia foi enorme, visto que a
mesma moldou o ensino de Agostinho, Calvino, Lutero, Wesley, dentre outros. Algumas
circunstâncias em que a carta foi escrita são apresentadas pelo autor do
comentário.
Quanto às circunstancias do autor da
carta, o mesmo dá alguns detalhes: ele está a caminho de Jerusalém e de lá
pretende viajar à Espanha para iniciar uma nova obra evangelística no local,
mas antes pretende fazer uma escala em Roma de acordo com a narrativa de Lucas
em Atos. Paulo escreveu Romanos no final da sua terceira viagem missionária,
provavelmente durante uma estadia de três meses na Grécia (At. 20.3-6) e Paulo
passou maior parte desse tempo em Corinto (2 Co 13.1,10).
Quanto a Igreja de Roma provavelmente
peregrino vindos de Roma, que se converteram com a pregação de Pedro no dia de
Pentecostes, tenham sido os que levaram o Evangelho a grande população judaica
da Capital (At 2.10). O historiador Suetônio observa que o imperador romano
Claudio expulsou os judeus de Roma, com essa expulsão, os gentios, que eram a
minoria dos fiéis, agora eram os únicos cristãos na cidade, assim quando Paulo
escreveu a carta, os gentios que agora era maioria, é quem davam o tom tanto na
liderança quanto na teologia.
História do texto
Há muitas teorias acerca dos capítulos
14 a 16, principalmente no que se refere à doxologia, que em alguns manuscritos
aparece no final do capitulo 14 e 16 e em outro no final do capítulo 15, e
ainda outros manuscritos omitem todo o capitulo 15, o que sugere que o formato
da carta em 16 capítulos que temos hoje pode ter sido precedido de um formato
de 14 ou 15 capítulos, em torno do qual, muitas conjecturas foram levantadas. Para
Orígenes, o mais provável foi que Marcião (um teólogo do século II que não
gostava das influencias do AT e dos elementos judaicos no cristianismo) tenha
removido esses capítulos. Temos boas razões, entretanto, para pensar que a
carta impressa em nossas Bíblias é substancialmente idêntica à carta que Paulo
escreveu à igreja de Roma.
Destinatários
Vários elementos da carta apontam
principalmente, se não exclusivamente, para destinatários judeus, mas há
indicações de que a carta também tem em mente leitores gentios. Romanos
manifesta uma natureza dupla, a melhor explicação para essa evidência, no
entanto, é a suposição de que a comunidade Cristã a quem Paulo se dirigia era
composta tanto de judeus como de gentios. Todavia a maneira como Paulo se
apresenta a igreja com seu ministério
para os gentios em 1.5,6, sugere que os gentios constituíam tamanha maioria,
que a igreja tinha incorporado um toque e uma identidade gentílica.
Gênero literário
Embora
Romanos tenha a abertura e a conclusão típicas de uma carta (1.1-15;
15.14-16.27), sua característica mais marcante é a sua consistente argumentação teológico pastoral em 1.16-11.36. A
dinâmica da carta é ditada pela lógica interna do evangelho e não por questões
locais. Isso não significa que Paulo escreveu a carta no vácuo: Romanos não é
um tratado teológico atemporal, mas uma
carta escrita para uma igreja específica em uma situação específica. O caráter
distintivo da carta excede em muito a importância da sua conformidade com as
práticas literárias ou retóricas da época.
Propósito
O propósito de Paulo ao escrever essa
carta foi apresentar-se aos romanos e explicar aquilo em que ele acreditava, o
intuito era acabar com a divisão no seio da igreja em Roma. A divisão era
especificamente entre os cristãos gentios (Os “fortes”) e os cristãos judeus
(os “fracos”), isso explica porque Paulo passa tanto tempo na carta expondo
cuidadosamente sua teologia sobre esses dois grupos. O desejo de Paulo é
abordar essa questão teológica central e permanente (relação entre lei e
evangelho, judeus e gentios, Israel e a igreja) que confere a Romanos seu
caráter universal singular.
Tema
Para alguns o tema central da carta é a
continuidade da história da salvação, para outros, como os reformadores
protestantes o tema central é a justificação pela fé. Mas segundo o autor do
comentário em questão “nenhum desses conceitos é suficientemente amplo para
abranger o conteúdo da carta como um todo. Por isso tivemos que identificar um
único tema para a carta, este tem que ser “o evangelho”. A palavra é importante
na introdução (1.1,2,9,15) e na conclusão (15.16,19) da carta, e tem lugar de
honra naquela que é identificada como a declaração do tema da carta: Pois não
me envergonho do Evangelho de Cristo, porque é o poder de Deus para salvação de
todo aquele que crê (1.16)”.
COMENTÁRIO
Preâmbulo (1.1-7)
O preâmbulo de Romanos é notável por sua
extensão e detalhes teológicos. Paulo descreve quem ele é em termos de seu
chamado divino, o evangelho que ele prega e o ministério especial que Deus lhe
deu. Paulo entra nesses detalhes porque precisa apresentar suas “credenciais
diante” de uma igreja que ele nunca havia visitado. Tendo se apresentado no v. 1,
Paulo caracteriza brevemente esse
evangelho nos v. 2-4, e toca num tema que se tornará central para os romanos: a
continuidade entre o plano de Deus no AT e sua culminação no NT e o evangelho
tem no seu cerne numa pessoa: O Filho de Deus, Jesus Cristo nosso Senhor.
Paulo também mostra seu propósito de
chamar os gentios tanto à aceitação do evangelho pela fé, como a uma contínua
obediência às exigências do evangelho. Crer e obedecer são duas coisas
inseparáveis: as pessoas não podem verdadeiramente obedecer a Deus sem antes
dobrar os joelhos ao Senhor Jesus em fé; e as pessoas não podem crer
verdadeiramente no Senhor Jesus sem obedecer a tudo que ele nos ordenou.
Ações de graça e
ocasião (1.8-15)
Paulo
expressa sua gratidão porque em todo mundo era conhecida a fé dos cristãos em
Roma, e em seguida fala do seu desejo de visitar e ministrar à igreja de Roma,
e assegura-lhe que a sua ausência não foi por falta de vontade, mas por falta
de oportunidade: ele fora impedido de
visita-los (13). O proposito que Paulo
tinha em visitar a igreja de Roma era repartir
com eles algum dom espiritual (11), conseguir
igualmente entre vós algum fruto (13) e anunciar
o evangelho entre eles (15). O desejo de Paulo de ministrar em Roma não
resulta de um impulso egoísta, mas sim da consciência de que Deus o chamara e
equipara para um propósito (v. I Co 9.16b: “Ai de mim se não pregar o
evangelho”).
O tema da carta
(1.16-17)
No v. 16, como sempre em Paulo, a
salvação se refere ao ato de Deus de salvar o pecador de pena do pecado. A
insistência de Paulo em que essa salvação é para
todo aquele que crê soa como uma nota que ecoará ao longo de toda a carta.
O evangelho é a fonte de poder de Deus
para salvar visto que a justiça de Deus
nela se revela. Essa “justiça de Deus” é um tema central em Romanos
(3.5,21,22,25,26; 10.3), fora romanos Paulo usa essa expressão somente em 2Co
5.21. A justiça de Deus é revelada, então à medida que o evangelho é pregado e
as pessoas respondem à mensagem pela fé. Uma das características distintivas de
Paulo sobre a justiça de Deus é a sua insistência quanto à sua ligação com a
fé.
O EVANGELHO E A JUSTIÇA
DE DEUS PELA FÉ (1.18-4.25)
A citação de Hc 2.4 no v. 17 introduz o
tema da primeira grande seção que forma o corpo da carta aos Romanos: a
revelação há muito prometida, da justiça redentora de Deus em Jesus Cristo, e a
fé como único meio pelo qual o ser humano pode experimentar essa justiça.
Paulo mostra que, os judeus, assim como
os gentios estão sujeitos ao domínio do pecado e necessitam do evangelho da
justiça de Deus. Assim após expor o pecado e a necessidade dos gentios em
1.18-38, Paulo gasta um tempo considerável mostrando que a situação dos judeus
em nada era melhor (2.1-3.8).
A ira de Deus em
relação aos gentios (1.18-32)
Alguns teólogos tem dificuldade em
conciliar a ideia de ira com o Deus da Bíblia. Mas a Bíblia constantemente
retrata Deus como um Deus que age para julgar o pecado. A ira de Deus não é,
evidentemente, uma fúria emocional, mas uma oposição firme e absoluta a tudo
que é mal. É algo que é parte da essência do caráter de Deus.
Paulo mostra primeiro como a ira de Deus
sobreveio merecidamente aos gentios, ele apresenta o retrato da situação dos
gentios em geral esboçado contra o pano de fundo da queda original; ele retrata
cada pessoa como sendo o seu “próprio adão”, ou seja, repetindo o mesmo pecado
cometido por nossos primeiros pais.
Paulo deixa claro que os gentios de sua
época, assim como as pessoas de hoje que nunca ouviram o evangelho ou leram a
bíblia, têm realmente “visto” algo de Deus e quem ele é. Mas alguns dos que
recebem essa verdade, não respondem a ela da forma como deveriam.
A rejeição de Deus por parte de ser
humano leva à punição do ser humano por parte de Deus. Os v. 29-31 mostram como
a falha humana em dar a Deus o que lhe é devido trouxe sobre a raça humana
males destrutivos, de todos os tipos, que vão desde a difamação até o
homicídio.
A IRA DE DEUS EM RELAÇÃO
AOS JUDEUS (2.1-3.8)
Em 1.18-32, Paulo descreveu o pecado
e o julgamento dos gentios usando a terceira pessoa: “eles” se afastaram de
Deus. Deis “os” entregou. Na maior parte do capítulo 2, porém, Paulo usa a
segunda pessoa do singular, como no v. 1: Portanto
és indesculpável. Essa mudança de pessoa não significa que Paulo esteja
agora se dirigindo diretamente a um destinatário em Roma. Ele está usando um
recurso literário popular no mundo antigo por meio do qual o autor se dirige a
um adversário ou companheiro imaginário como um meio vívido de fazer suas teses
chegarem a quem os assiste (esse estilo era chamado de diatribe).
Então em toda passagem 2.1-3.8 Paulo se
concentra nos judeus. Ele demonstra que a condição dos judeus diante de Deus
não é diferente da dos gentios (2.1-16) a despeito do fato de eles possuírem dadivas
genuínas de Deus como a lei e a circuncisão (2.17-29). O proposito de Paulo é
colocar o judeu na mesma categoria que o gentio pecador do capítulo 1.
O juízo imparcial de
Deus (2.1-16)
Paulo mostra que a imparcialidade de
Deus, ensinada no AT e no judaísmo, exigia que ele não tivesse preferência, mas
tratasse a todos da mesma maneira (6-11). O judeu que não se arrepender
sinceramente não escapará do juízo simplesmente por fazer parte do povo da
aliança.
Paulo aplica abertamente esse
ensinamento sobre a imparcialidade de Deus tanto ao judeu quanto ao gentio
(9,10) revelando seu propósito geral de mostrar que o padrão do juízo de Deus
para o judeu em nada diferirá do padrão de juízo de Deus para os gentios.
Paulo ensina que fazer o mal acarretará a
ira de Deus e os que fazem e bem receberão a vida eterna, com isso ele não quer
mostrar como as pessoas podem ser salvas, mas estabelecer padrões de avaliação
que Deus usa além do evangelho Esses padrões são os mesmos para todos – seja,
eles judeus ou gentios, negros ou brancos. A lógica desses versículos pressupõe
que não há uma só pessoa que seja capaz de obedecer a lei de Deus o bastante
para ser justificada diante dele.
A lei e a circuncisão
(2.17-29)
Paulo não nega o valor da lei nem da
circuncisão ou da condição especial dos judeus, mas nega que esse
relacionamento especial confira imunidade automática perante o juízo de Deus. Paulo
afirma que a circuncisão só teria valor se o judeu observasse a lei, ou seja o
judeus que violasse a lei perderia o valor da circuncisão.
O simples fato de pertencer a Israel,
simbolizado na circuncisão, não pode salvar uma pessoa do justo juízo de Deus,
pois Deus juga uma “pessoa segundo o se procedimento” (2.6) e é apenas pela
“observância da lei” que a circuncisão terá valor. Paulo não está ensinando que
a circuncisão tem benefício salvífico quando acompanhada do beneficio da lei,
mas que a circuncisão nunca tem poder salvífico, pois ninguém é capaz de cumprir
a condição de observar a lei.
A fidelidade de Deus
(3.1-8)
O maior dom de Israel são as
escrituras, a própria palavra de Deus (do grego, ta logia, “os oráculos, utilizado 24 vezes no Sl 119). É bem
verdade que alguns judeus não se mostraram fiéis a essa palavra: eles nem obedeceram a lei,
nem aceitaram Jesus pela fé. Mas a infidelidade humana nunca poderá diminuir a
fidelidade de Deus (3). Mesmo quando o
home é mentiroso, Deus continua a ser verdadeiro (4a). Embora o aspecto
positivo da fidelidade de Deus esteja presente, o v. 4b sugere que também há um
aspecto negativo dessa fidelidade.
O ponto é que Deus é justo quando julga,
à luz disso, deveríamos entender que Paulo está afirmando nos v. 3,4 a
fidelidade de Deus em todos os aspectos de sua palavra a Israel. E essa palavra
tanto promete benção pela obediência quanto ameaça de juízo pela desobediência
(cf. Dt 28; 30.11-20). O fato de os
judeus não obedecerem a palavra de Deus trouxe juízo sobre eles, e por isso
destacou a fidelidade de Deus em sua palavra de ameaça e juízo sobre o pecado.
Mas qualquer que possa ser o resultado positivo do pecado, Deus nunca é injusto
em castigá-lo.
A culpa de toda a
humanidade (3.9-20)
Embora as breves questões que
iniciem o v. 9 o conectem aos v 1-8, fica claro que Paulo começa aqui uma
síntese e aplicação do argumento que ele começou com 1.18. Ele demonstrou que a
ira de Deus recai com justiça tanto sobre os gentios (1.18-23) como sobre o0s
judeus (2.1-3.8). Assim, conclui Paulo, todos os povos estão “debaixo do
pecado”. Paulo reforça essa conclusão com uma prova do AT (10-18) e então
aplica o princípio aos judeus (19,20). Paulo pode validamente extrair essa
conclusão universal dos judeus porque ao demonstrar o pecado do próprio povo da
aliança ele provou a parte mais difícil de sua tese. Se até mesmo os judeus são
condenados, então ninguém pode escapar da mesma sentença.
O fato de todas as pessoas estarem
“debaixo do pecado” (3.9) significa que nenhuma pessoa pode sempre obedecer a
lei de Deus o suficiente para merecer se apresentar diante dele. Ao considerar
as “obras da lei” dos judeus insuficientes para alcançar salvação, Paulo implicitamente
considera inadequadas também todas as “obras” humanas. O poder do pecado mantém
todas as pessoas sob seu domínio inexorável, e nada do que nós fizermos pode
nos libertar disso.
A justiça de Deus (3.21-26)
Paulo desenvolve o tema sobre a justiça
de Deus em quatro etapas. Primeiro quando ele anuncia “a justiça de Deus”, está
se referindo a uma ação que é de Deus (como em 1.17) e não um dom ou condição
que “provém de Deus” (NVI); segundo Paulo destaca o caráter universal da
justiça de Deus, ou seja, experimentar a ação justificadora de Deus é algo
possível somente mediante a fé em Jesus
Cristo, e é para todos e sobre todos
os que creem, pois todos igualmente precisam da justiça de Deus uma vez que
todos pecaram e carecem da gloria de Deus
(22,23).
A terceira parte do paragrafo chama a
atenção para a fonte da justiça de Deus. Sendo
justificados no inicio do v. 24 faz referência à justiça de Deus nos v 21 e
22. A ação de Deus de colocar as pessoas em um novo e justo relacionamento com
ele é um ato de graça. A quarta etapa da exposição sobre a justiça de Deus
afirma que o modo como Deus justifica os pecadores mantém a sua justiça e
santidade (25b, 26).
Ele justificou pessoas como Abraão e
Davi, sem remover toda a pena por seus pecados. Essa pena agora foi paga por
Cristo na Cruz, revelando que Deus é justo tanto por ignorar esses pecados anteriormente cometidos (25b) como por
justificar os pecadores no tempo presente
(26a). Em uma frase que resume todo o parágrafo, Deus é agora visto como o
que é justo e justificador daquele que
tem fé em Jesus (26b).
“Somente pela fé”
(3.27-31)
Os judeus tinham a tendência de contar
com suas obras como base para seu relacionamento com Deus (9.30-10.3, cf. Ef. 3.2-9). A provisão da justiça de
Deus “independentemente das obras da lei” (28) e mediante a fé em Jesus Cristo
(21,22) revela a insensatez do orgulho por tal realização. Foi de todo excluída, Paulo alega, pela lei da fé.
Nos v. 29-30 Paulo cita o ensino central
dos judeus sobre a unicidade de Deus (Dt. 6.4) como mais um argumento a favor
da exclusividade da fé. Pois se Deus deve ser verdadeiramente o Deus de todos
os seres humanos, então todos os povos devem ter igual acesso a ele, e pelos
mesmos meios. A lei de Moisés, a Torá, não pode mais continuar sendo um muro
divisório entre judeus e gentios (Ef. 2.11-22). Deus justifica tanto circuncisos
(os judeus) como incircuncisos (os gentios) pela fé.
“Somente pela fé”: a fé
de Abraão (4.1-25)
Paulo cita Abraão para mostrar que sua
ênfase na justificação pela fé não era uma doutrina nova, mas sim algo que as
Escrituras ensinaram desde o principio e para deixar absolutamente claro o que
de fato é fé. Paulo discute a questão fé versus obra. O texto de Gênesis 15.6,
torna-se a base para a exposição de Paulo. Ele mostra que esse fato que “lhe
foi imputado para justiça”, justamente por se basear na fé, exclui as obras
(4-8), e a circuncisão (9-12) e alei (13-17). Ele detalha a natureza e a força
dessa fé que levou Abraão à justiça (18-21) antes de citar o seu texto, mas uma
vez (22) deixando clara, assim, a sua aplicabilidade aos seus leitores (23-25).
O propósito de Paulo nos v. 4,5 é
contrastar fé e obras. As obras de um lado implicam uma situação de obrigação.
Uma pessoa que “trabalha” recebe um salario que o empregador é obrigado a
pagar. A fé por outro lado, implica uma situação em que algo é concedido por
liberalidade. Como um ato humilde de aceitação, a fé não exige nada do doador
nem obriga o doador a uma reação. Aqui Paulo nos lembra de uma das grandes verdades
das Escrituras: que as pessoas não têm direito de reivindicar a atenção de
Deus. A possibilidade de nos relacionarmos com Deus é uma dádiva gratuita a ser
aceita com fé e humildade.
O EVANGELHO E O PODER
DE DEUS PARA A SALVAÇÃO (5.1-8.39)
Muitos chamam a estrutura dos
capítulos 5-8 de “composição em cruz e outros de “quianismo”, no qual há certa
correspondência entre o primeiro e o ultimo elementos, bem como entre o segundo
e o penúltimo elementos e assim por diante:
5.1-11
Certeza da glória futura
5.12-21 Base para essa certeza na obra de
Cristo
6.1-23 Liberto do poder do pecado
7.1-25 Liberto do poder da lei
8.1-17 Base para essa certeza na obra de
Cristo, mediada pelo Espírito santo
8.18-39
Certeza da glória futura
A esperança da glória
(5.1-11)
Os cristãos que foram justificados mediante a fé agora
desfrutam a paz com Deus, um
relacionamento no qual nós já não somos mais ameaçados pela ira de Deus, o acesso [...] a esta graça na qual estamos
firmes, a participação continua nas bênçãos pela graça de Deus em Cristo.
As dificuldades, longe de ameaçarem
nossa paz e segurança, realmente nos dão uma maior garantia delas (3b,4), pois
os sofrimentos são usados por Deus para produzir em nos perseverança , a
capacidade de resistir. Perseverança produz caráter, a força que resulta somente de severas provações, e o caráter por
sua vez produz esperança. Porque Deus trabalha dessa maneira em nossas vidas e
porque desejar ansiosamente esse tipo de caráter e de esperança, devemos nos
alegrar em nossos sofrimentos (3a).
O reino de graça e vida
(5.12-21)
O poder da obediência de Cristo em
superar a desobediência de Adão é o grande tema desse parágrafo. Paulo
apresenta Adão e Cristo como “figuras representativas”, cujos atos determinam o
destino de todos aqueles que a eles pertencem (12a, 18, 19). Paulo pressupõe a
verdade do pecado de Adão e o reinado da morte que ele introduz, e ensina que Cristo
entregando-se a si mesmo na cruz, estabeleceu de modo semelhante um reino – mas
um reino de vida, em vez de morte, um reino de graça (cf. v. 15-17,21) em vez de apenas desertos.
Paulo afirma no v 18 que tanto os
efeitos dos atos de Adão como os dos atos de Cristo se estendem a todos os
homens. Devemos compreender o universalismo desse verso em termos da
importância representativa de cada individuo: os efeitos da ação de Cristo se
estende a todos que pertencem a ele, assim como os efeitos da ação de Adão se
estendem a todos que pertencem a ele. Todas as pessoas, sem exceção, pertencem
Adão; mas apenas aqueles que vêm a ter fé, que “recebem o dom” pertencem a
Cristo. (5.12-21)
Libertos da escravidão
do pecado (6.1-23)
Paulo afirma no cap. 6 que os
cristãos não são somente libertos em Cristo da pena do pecado – isto é,
justificados – mas também do poder do pecado – isto é, santificados. Sem
minimizar a ameaça contínua que o pecado representa para a vida cristã, Paulo
insiste em que os cristãos foram colocados em uma nova relação em que pecado já
não tem poder de nos “dominar”, de nos fazer cativos (cf. v. 6,14,18,22).
“Morte para o pecado”
pela união em Cristo (6.1-14)
Morrer para o pecado não significa ser
insensível à sua tentação, pois Paulo deixa claro que o pecado continua sendo
atraente para os cristãos e deve ser combatido a cada dia (v. 13). Antes
significa ser liberto da tirania absoluta do pecado, do estado em que todos
vivíamos antes da conversão.
A nossa fé simbolizada pelo batismo,
coloca-nos num relacionamento com o próprio sepultamento de Cristo. A verdade
básica do argumento de Paulo é bem clara: Uma vez que a própria morte de Cristo
foi uma “morte para o pecado” (10), a nossa participação na sua morte (3-6)
significa que nós também “para ele [o pecado] morremos” (2).
O batismo, como o v. 4 deixa claro, é o
meio pelo qual somos colocados em relacionamento com esses acontecimentos. A nossa
identificação com Cristo em sua morte deve ser entendida e posta em prática
para que se torne efetiva em subjugar o poder do pecado na nossa vida. Paulo
nos exorta a reconhecer quem somos agora em Cristo (11) e a colocar em prática
essa nova identidade destronando o pecado do nosso comportamento cotidiano (12,13).
Livres do poder do
pecado para servir a justiça (6.15-23)
A afirmação de Paulo de que o cristão
não está “debaixo da lei, e sim da graça” (14b) poderia implicar que não há
mais regras às quais o cristão deva obedecer, e nenhuma pena para qualquer
pecado que ele venha cometer. Ser livre do pecado, segundo Paulo, não significa
que os cristãos sejam autônomos, que vivam sem mestre ou sem quaisquer
obrigações. Significa sim, uma nova escravidão, mas dessa vez à justiça (18,19)
e a Deus (22).
Somente ao dobrar os joelhos diante de
Deus uma pessoa pode se tornar o que Deus originalmente pretendia que essa
pessoa fosse: “justa” (em conformidade com os padrões de comportamento
estabelecidos por Deus) e “santa” (levando uma vida centrada em Deus e renunciando
aos padrões mundanos). E o resultado é a
vida eterna em cristo Jesus, nosso Senhor (23, cf. v. 22) (6.15-23)
Libertos da escravidão
da lei (7.1-25)
Paulo sugere que a lei, assim como o
pecado, é de certo modo um “poder” que pertence ao antigo regime da história da
salvação, do qual os cristãos devem ser libertados se quiserem aproveitar a
vida no novo regime de justiça e de vida inaugurado por Jesus Cristo. O
apostolo já sugeriu essa ideia em 6.14,15. Esses versículos fornecem o contexto
imediato para a discussão que ele apresenta no capítulo 7.
Libertos da lei; unidos
a Cristo (7.1-6)
A passagem do cristão do domínio da
lei para o domínio de Cristo é o ponto central desse parágrafo (4). Paulo chega
a este ponto com um lembrete sobre a natureza da lei: ela somente tem poder
sobre as pessoas enquanto estiverem vivas. Os v. 2,3 ilustram a verdade desse
princípio com a analogia do casamento, e traz duas observações: a morte rompe o
relacionamento da pessoa com a lei, e a libertação da lei permite que uma
pessoa se uma a outra. Paulo usa a palavra carne no v. 5 para designar não uma
propensão da pessoa ao pecado (como sugere a NVI), mas a “esfera de poder” em
que a pessoa vive.
Uma vez que a raiz do seu conceito
teológico é que aquilo que é típico deste mundo se distingue do reino
espiritual, “carne” pode ser utilizado como símbolo do regime antigo. Tal como
em 2.29, o contraste entre “letra” (gramma)
e o “Espírito” é o contraste entre a lei como poder determinante da antiga era
e o espírito o agente reinante da nova.
A história e a
experiência dos judeus soba a lei (7.7-25)
Em 7.1-6 Paulo disse muitas coisa negativas sobre a lei, diante
disso podemos imaginar que alguém pense que Paulo encara a lei como má. Paulo
sabia disso e então introduz uma digressão sobre a lei na qual se protege
contra essa falsa interpretação. Ele defende a qualidade positiva da lei ao
demonstrar que os efeitos negativos que ela produz se devem não a lei em si,
mas ao poder do pecado e a fraqueza humana.
O paragrafo que fala sobre a vinda
da lei (7-12) atinge dois propósitos: afirmar e sustentar, contra um possível equívoco
(7a), que a lei de Moisés, ou seja, o mandamento é santo, justo e bom (12) e explicar a relação entre a lei e o pecado
(7b-11). Paulo afirma que pela lei ele conheceu o pecado e não só isso, a lei
com sua apresentação clara dos mandamentos de Deus, deu a pecado a oportunidade
de incentivar a rebeldia contra Deus e deixou totalmente clara sua propensão ao
pecado e a morte. O que Paulo estaria dizendo é que a entrega da lei de Moisés
a Israel significou para eles não a vida (como alguns rabinos ensinavam), mas a
morte, pois a lei de Moisés, ao estimular o pecado “trouxe a ira” deixando mais
clara do que nunca a distância que separava os judeus de Deus.
A segunda parte da digressão de
Paulo sobre a lei (13-25) fornece um “elo perdido” na argumentação em 7.7-12: a
fraqueza dos seres humanos como a razão pela qual o pecado pôde usar a lei para
trazer a morte. A lei embora espiritual não possa libertar as pessoas do
domínio do pecado e da morte (21-25), porque elas são carnais (14) incapazes de
obedecer à lei que admitem ser boa
(16).
O fato de a lei ser espiritual (sarkinos),
mas que “eu” sou carnal prepara o
terreno para o conflito nos v. 15-20. Reconhecer o lado bom da lei e o desejo
de obedecê-la é algo que se contrapõe à incapacidade de cumprir de fato a lei
na prática. O prazer na lei de Deus – como é típico do povo judeu – depara com
a força de outra lei. Enquanto alguns
entendem essa “outra lei” como sendo outra função da lei de Moisés, a palavra
outra (heteros) sugere que Paulo tem
em mente uma “lei” distinta da lei de Moisés. Essa “lei” é a força ou o “poder”
do pecado que Paulo coloca frente a frente com a lei de Deus (v. também 3.27;
8.2). (7.7-25)
A garantia da vida
eterna (8.1-30)
Romanos 8 é bastante conhecido por
seu foco no Espírito Santo. A palavra “espírito” (pneuma) ocorre 21 vezes no capítulo e em todas elas com exceção de
duas (15a; 16b), refere-se ao Espírito Santo. Contudo o espirito santo não é o
tema do capítulo; a certeza de vida eterna que o Espírito ajuda a garantir é o
verdadeiro tema de Paulo. Paulo mostra como o Espírito confere ao cristão
(1-13) a adoção na família de Deus (14-17) bem como a certeza da esperança da
glória (18-30).
O Espírito da vida
(8.1-13)
A libertação dos cristãos da condenação
– a pena de morte por causa do pecado sob a qual todas as pessoas vivem –
ocorre em virtude da nossa união com Cristo (5.12-21). Os versículos 2-4
explicam que essa libertação foi realizada pelo trino: o Pai envia o Filho como
uma oferta pelo pecado por nós (3) e, com base nisso o Espírito nos liberta do
poder do pecado e da morte (2) e assegura o cumprimento da lei em nosso favor
(4).
As “leis” contrastantes do v. 2 podem se
referir a duas operações distintas da lei mosaica, que funciona para aprisionar
as pessoas quando vista estritamente como uma exigência de obras, mas que opera
para libertar as pessoas quando elas a entendem corretamente como uma exigência
por “obediência fiel”.
Os versículos 12,13 encerram essa
seção com um lembrete prático: a obra do Espírito em nos garantir vida não
significa que podemos ser passivos com relação à nossa obrigação de manifestar
a vida do Espírito Santo na nossa vida diária. Somente quando nos submetermos
ao controle e à direção do Espírito, afastamo-nos do estilo de vida “carnal”,
seremos capazes de viver (13).
O Espírito da adoção
(8.14-17)
Assim como a “vida” é a ideia central
dos v. 1-13, a filiação ocupa o centro desses versículos. Ser filho de Deus
explica não somente porque o Espírito de Deus nos confere vida (13,14), mas
também porque se diz que também que somos herdeiros com uma perspectiva
gloriosa para o futuro (17,18). Ser guiado pelo espírito de Deus (14) não
significa ser guiado pelo Espírito na tomada de decisões, mas estar sob a influência
dominante do espírito (Gl. 5.18). Paulo pode afirmar que aqueles guiados pelo
espírito são filhos de Deus e por isso destinados a vida (13), porque filhos de
Deus é um título que a Bíblia atribui ao povo de Deus.
A
nossa adoção na família de Deus, embora maravilhosa e confortante, não é o fim
da história. Pois ser filho significa também ser herdeiro: estar ainda
aguardando a plena concessão de todos os direitos e privilégios conferidos a
nós como filhos de Deus. Do mesmo modo que o Filho de Deus teve de sofrer antes
de entrar na sua glória (I Pe. 1.11), também nós, filhos de Deus por adoção,
devemos sofrer “com ele”, antes de compartilharmos da sua glória.
O espírito da Glória
(8.18-30)
O tema da esperança da glória dos
cristãos emoldura esse parágrafo, aparecendo no seu inicio (18) e final (30) e
é seu grande tema. Os crentes ao enfrentar a necessidade de “sofrer em Cristo”
neste mundo, podem mesmo assim estar confiantes e seguros, sabendo que Deus está
determinado anos conduzir à nossa herança (18,22,29,30), que ele em sua
providência está trabalhando em nosso favor (28) e que nos deu seu Espírito
como certeza da nossa redenção (23).
Paulo nunca minimiza o fato ou a
severidade do sofrimento dos cristãos neste mundo. Mas esse sofrimento deve ser
encarado como algo insignificante, em comparação à glória que será revelada em
nós. A nossa alegria não virá de saber que nunca iremos enfrentar dificuldades
– pois certamente enfrentaremos (17) – mas de saber que sejam quais forem as
dificuldades, nosso pai amoroso está agindo para fazer com que nos tornemos
cristãos mais fortes.
Paulo descreve aqueles por quem Deus
trabalha a partir do ponto de vista humano (aqueles
que amam a Deus) e do ponto de vista divino (que foram chamados segundo o seu propósito, 28). O chamado de Deus
não é simplesmente seu convite para as pessoas aceitarem o evangelho, mas sua
efetiva convocação de pessoas para um relacionamento com ele (v. e.g. 4.17;
9.12,24). Essa convocação tem lugar segundo esse propósito, em última análise,
é sermos conforme à imagem do seu Filho (29). É significativo que o verbo
“glorificar”, no v. 30, esteja, como os outros (“chamar”, “justificar”), no
passado, sugerindo que, embora a obtenção da glória seja futura, já foi
concretizada a determinação de Deus no sentido de que iremos obtê-la.
A celebração da
segurança do crente (8.31-39)
Ninguém é capaz de ser bem sucedido em
alguma acusação contra nós que tenha a intenção de nos levar à condenação no
juízo, pois é o mesmo Deus, o Deus que nos justificou e escolheu a nós e ao seu
próprio Filho, que reponde a qualquer acusação contra nós.
Separar-nos do amor de Deus é algo tão
impossível quanto fazer uma acusação contra nós. Nenhum perigo ou desastre
desse mundo pode fazê-lo (35b,36), nem qualquer poder espiritual (38). Na
verdade não há nada em toda a criação que pode nos retirar do novo domínio, no
qual o amor de Deus em Cristo reina sobre nós. (8.31-39)
O EVANGELHO E ISRAEL (9.1-11.36)
Os estudiosos frequentemente têm
considerado que estes três capítulos tem pouca conexão com o tema verdadeiro de
romanos. Mas o tema desses capítulos é o lugar de Israel no plano da salvação
de Deus, e esse está estreitamente ligado aos interesses de Paulo em
Romanos. Ele quer deixar claro que a
vinda de Jesus Cristo e do novo regime da história da salvação que ele
inaugurou não são inovações no plano de Deus para a história, mas sua
culminação almejada. Do principio ao fim Paulo está preocupado em mostrar que
as promessas de Deus ao seu povo – desde que corretamente entendidas –
permanecem complemente intactas.
A questão: a angústia
de Paulo em relação a Israel (9.1-6a)
A afirmação da certeza do cumprimento
das promessas de Deus para os cristãos leva Paulo a levantar a questão das
promessas de Deus para Israel. Os v. 1-3 mostram que essa era uma questão
intensamente emocional para Paulo, pois ele nunca perdeu o seu senso de
identificação com seus contemporâneos judeus.
A emoção de Paulo diante da
incredulidade dos judeus tem uma base diferente e talvez mais profunda: a incongruência
entre o estado atual dos judeus e seus privilégios maravilhosos (4,5). O auge
dos privilégios dos judeus é o fato de que Cristo, o Messias prometido vem
deles. Mas essa é a história do ponto de vista humano; do ponto de vista
divino, esse mesmo Cristo é o próprio “Deus”.
Os privilégios que Paulo enumerou tem
origem no próprio Deus e podem ser tomados por muitos judeus como certos – a
salvação dos judeus em geral. É esta salvação que o evangelho especificamente
põe em questão e ao fazê-lo suscita a pergunta que é central nesses capítulos:
Teria Deus abandonado suas promessas a Israel? (6a) (9.1-6a)
O passado de Israel
(9.6b-13)
Em sua primeira resposta Paulo argumenta
que a palavra de Deus sempre prometeu salvação somente àqueles a quem
soberanamente escolheu e utiliza a história de Israel para defender seu
argumento, mostrando que pertencer ao povo de Deus não depende nem do
nascimento nem de qualquer coisa que a pessoa faça, mas do chamado de Deus.
Há segundo Paulo sugere, em consonância
com a teologia do “remanescente” do AT, um Israel espiritual dentro do grande
Israel étnico. Paulo usa textos do AT para ilustrar o principio da soberania de
Deus na salvação: ser filho de Deus (cf.
v. 7-9) depende em ultima instancia do chamado de Deus. O fato de “amar” Jacó e
“aborrecer” Esaú são maneiras de descrever em termos fortemente contrastante a
realidade de Deus eleger para a salvação e excluir da salvação,
respectivamente.
Objeções: a liberdade
de Deus (9.14-23)
A ênfase de Paulo na soberania de Deus
na salvação suscita algumas objeções. Paulo lida com duas delas nessa seção:
Não seria deus injusto por escolher alguns e rejeitar outros? (14) E como as
pessoas podem ser responsabilizadas por rejeitar a Deus se ele mesmo determina
tal rejeição? (19).
Para a primeira pergunta ele mesmo a faz:
Há injustiça da parte de Deus? e cita
de novo o AT para apoiar seu ponto de vista (15), mas o texto que Paulo cita –
Êxodo 33.19 – parece simplesmente reiterar a livre e soberana ação de Deus. Mas
talvez esse seja o ponto de Paulo: que as ações de Deus não podem ser julgadas
para além de sua própria natureza revelada nas Escrituras.
Quanto à segunda pergunta Paulo
demonstra que ele mesmo não tem uma resposta satisfatoriamente lógica para ela.
Para Paulo a soberania de Deus na rejeição e a responsabilidade do homem por
essa rejeição (1.20-2.11; 9.30-10.21) devem ser mantidas como duas verdades
complementares, verdades que não devem ser utilizadas para desvalorizar uma a
outra. Aqui Paulo simplesmente contesta o direito de alguém jugar os caminhos
de Deus. Ele é o oleiro que tem pleno poder sobre os vasos que ele cria (v.
22,23; Jr. 18).
Deus chama um novo povo
(9.24-29)
Ainda que o v. 24 esteja gramaticalmente
ligado aos v. 2223, ele retoma o tema com que Paulo começou essa seção: O
chamado de Deus. Nos v. 7-13 Paulo mostrou como Deus chamou de dentro do Israel
étnico, um pequeno numero de judeus que formaram o Israel espiritual. Agora ele
mostra que esse chamado soberano de Deus criou no momento presente um povo
novo, composto por gentios (25,26) e por um remanescente judeu (27-29).
O PRESENTE DE ISRAEL:
DESOBEDIÊNCIA (9.30-10.21)
O segundo argumento de Paulo em
defesa da proposição de que a palavra da promessa de Deus a Israel não falhara
(9.6a) é o que o próprio Israel por sua incapacidade de responder adequadamente
à palavra de Deus é o culpado por sua exclusão do povo de Deus. A incredulidade
da maioria dos contemporâneos judeus de Paulo se deve tanto à eleição soberana
de Deus (9.6b-29), quanto a sua recusa culpável em crer. A eleição divina
incondicional e a responsabilidade humana se encontram lado a lado, e não se
deve admitir que uma elimine ou atenue a outra.
A justiça de Deus e a
justiça da lei (9.30-10-13)
Um contraste entre dois tipos de
justiça domina essa seção: a justiça de Deus (10.3), uma justiça disponível
somente por meio da fé (9.30; 10.4,6,10), e a “justiça” própria de alguém
(10.3), uma justiça que está relacionada
estritamente a lei (9.31; 10,5) e as obras (9.32).
Depois de reafirmar seu profundo
anseio pela salvação de seus irmãos judeus (cf
9.1-3), Paulo culpa os judeus por não terem o conhecimento dos caminhos e
propósitos de Deus que corresponda a seu zelo inegável (1-4).
Utilizando a linguagem da corrida em
9.30-33, Israel estava correndo com determinação, mas não em direção à
verdadeira linha de chegada. Essa linha de chegada é a justiça de Deus (3).
Voltados para a busca de sua própria justiça, a justiça que vem pelas obras
(9.32) e pela lei (10.5), os judeus não tinham submetido e não estavam
dispostos a aceitar, em fé, a maneira de Deus estabelecer um relacionamento com
as pessoas.
Os judeus não conseguiram entender que
Cristo é, em si mesmo, a “culminação” da lei. Cristo segundo Paulo, sempre foi
o objetivo para o qual a lei apontou; e uma vez que o objetivo já foi atingido
– Cristo veio – a busca da lei não deveria ser um fim sem si mesmo. O que o AT
atribui à lei Paulo agora entende ter-se “cumprido” em Cristo e na mensagem do
evangelho: a pronta disponibilidade do meio que leva à justiça.
Deus agora trouxe para bem perto a sua
palavra para o povo na mensagem do evangelho da morte e ressurreição de Cristo,
e isso revela duas implicações: Deus já “fez” o que é necessário para garantir
a justiça, tudo o que as pessoas precisam fazer e crer e o evangelho está
“perto” de todos, não apenas dos judeus. O reconhecimento de que Jesus é o
Senhor é o elemento que Paulo claramente pretende destacar: a atitude de crer
no coração (cf. 2.28,29). (10.1-13).
Israel não tem
desculpas (10.14-21)
Paulo mostrou que o fato de Israel não
obter a salvação deve ser atribuído á sua incapacidade de crer, e não a alguma
falha da palavra de Deus. As condições para crer no evangelho e encontrar a
salvação foram cumpridas (14,15,17,18). A culpa então é de Israel por se
recusar a ser obediente (16) e por deixar de compreender o próprio AT, que
profetizou o que agora Deus fez no evangelho (19.21).
Paulo mostra tanto por Moisés (Dt.
32.21) como por Isaías (65.1) que Deus tinha planejado o tempo todo incluir os
gentios o seu plano de salvação e fazer deles o seu povo (cf 9.2426). Continuando sua citação de Isaías (65.2), Paulo conclui
esta seção de seu argumento lembrando a seus leitores de dois fatos principais:
Deus tem estendido constantemente a palavra de sua graça, o evangelho, ao povo
de Israel, mas este por sua vez tem sido um povo rebelde e contradizente.
O presente de Israel:
“um remanescente pela graça” (11.1-10)
Paulo retorna ao tema do
remanescente dos judeus que continua sendo parte do povo de Deus, deixando
claro que ainda que uma parte significativa do povo de Israel se endureceu
(7-10; cf. 9.30-10.21) ainda há um remanescente segundo a eleição da graça (5),
judeus que creram em Cristo.
Paulo demonstra novamente sua
sensibilidade em relação à forma como o seu ensinamento poderia ser
interpretado ao levantar a questão: Terá
Deus, por ventura, esquecido seu povo? (1). Que Deus rejeitou Israel como
seu povo poderia muito bem ser a conclusão extraída do argumento de Paulo de
que pertencer ao povo de Deus depende totalmente do “chamado” soberano de Deus
e não da descendência física de Abraão (9.6-29).
Deus não rejeitou o seu povo a quem ele
de antemão conheceu (2a; cf. Sl
94.14). Paulo está não apenas afirmando a eleição para a salvação do
remanescente (cf. 9.6-9; 11.3-6), mas
também está afirmando a contínua eleição de Israel como um todo (cf. 11.28,29). O remanescente existe
somente como fruto da graça de Deus, e não pode se pode participar dele pelas obras (6).
Assim como é a intervenção de Deus que
traz a salvação aos eleitos (graça no
v. 6), assim é pelo ato de Deus que os
mais (os outros) não conseguiram alcança-la, pois eles foram endurecidos. Enquanto Israel continua a
ser plenamente responsável por sua falta de aceitação do evangelho, Paulo deixa
claro que, de maneira misteriosa, Deus está por trás dessa incapacidade de
aceita-lo.
O futuro de Israel
(11.11-32)
A incredulidade da maioria dos
judeus contemporâneos de Paulo não deve nos cegar para o fato de que o
“endurecimento” de Israel nem é total (no
tempo de hoje sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça; 5) nem
é definitivo (todo o Israel será salvo,
26). A previsão da salvação futura de Israel é o foco dessa seção de Paulo e o
auge de sua discussão sobre Israel e o evangelho. Paulo conduz a discussão para
esse tema, mostrando como Deus está usando a incredulidade atual de Israel para
realizar seu plano de salvação do mundo (11-24).
Judeus e gentios no
plano de Deus (11.11.24)
Israel como nação tropeçara: não
conseguiu ter fé em Cristo, o meio escolhido por Deus para prover a justiça (cf. 9.33; 10.2-4). Mas o tropeço de
Israel não levou a uma ruina irreparável. Pois a transgressão dos judeus deu
inicio a um processo pelo qual eles ficarão com ciúmes e serão conduzidos por fim a salvação (11b; cf. 11.26).
O fato dos judeus terem recusado o evangelho
, segundo Paulo deixa implícito, abriu o caminho para pregação aos gentios.
Assim quando os judeus veem os gentios desfrutando da benção de Deus, ficam por
sua vez, enciumados, como está previsto em Dt. 32.21, que Paulo cita em 10.19.
Paulo coloca a incredulidade dos judeus no contexto da revelação do plano de
Deus para salvação de todo o seu povo. Esse plano envolve uma alternância entre
judeus e gentios em três estágios: (i) a transgressão dos judeus abre caminho
para (ii) a salvação dos gentios, o que redunda no final (iii) na salvação dos
judeus.
Ao final dessa seção (23,24) Paulo
retorna ao ponto em que começou (12,13), utilizando a imagem da oliveira para
dar esperança à salvação futura dos judeus. Embora no presente estejam
quebrados (17-20), esses ramos naturais continuará a compartilha a santidade da
raiz da qual se originaram (6b).
Então de modo muito mais rápido que do
que os gentios, que são enxertados contra a natureza, os judeus podem ser
enxertados novamente na oliveira de Deus. Mas isso só pode acontecer se os
judeus não permanecerem na incredulidade.
Conquanto a salvação final de Israel seja certamente obra de Deus, ela não pode
ocorrer sem a resposta de fé que Deus sempre estabeleceu como pré-requisito
para se desfrutar de suas bênçãos.
“Todo o Israel será
Salvo” (11.25-32).
A esperança de uma restauração futura de
Israel com que Paulo acenou ao longo dos v. 11-24 é agora afirmada na forma de
revelação de um mistério. O
componente principal desse mistério agora revelado por Paulo é a maneira pela
qual Deus está agora trabalhando com os gentios (cf. Ef. 3.1-10).
Assim não é nada surpreendente que Paulo
chame de mistério a alternância entre judeus e gentios no plano de Deus para a
salvação. O endurecimento dos judeus por Deus, como Paulo demonstrou nos v.
3-10, é parcial (26), pois alguns judeus estão vindo para Jesus e sendo salvos,
mas essa limitação dessem endurecimento durará até que o número de gentios
determinados por Deus tenha entrado no Reino de Deus (cf. Lc. 21-24) e é provável que a salvação de todo o Israel (26)
deva acontecer após ter entrado a plenitude do número dos gentios.
Paulo está descrevendo um evento que
terá lugar no final da história, quando cristo retornar em glória, quando virá
de Sião o Libertador e serão tirados os pecados de Israel (26b 27). Todo Israel
tem um sentido coletivo: não quer dizer cada judeu da última geração, mas, em
contraste com os escassos números atuais, um número suficientemente grande para
representar a raça como um todo.
Paulo conclui seu exame do passado, presente e
futuro de Israel com um hino de louvor ao Deus cujos caminhos estão além do
nosso entendimento e crítica. A sabedoria
e o conhecimento de Deus (33) referem-se particularmente a revelação de
seus propósitos em Cristo (Ef. 3.5,10; Cl. 2.3). Podemos não entender todos os
detalhes desse plano e podemos até ser tentados a algumas partes dele, mas como
Paulo nos lembra com as citações do AT nos v. 31,35 (Is. 10.13; e Jó 41.11a),
qualquer crítica de nossa parte, meros mortais, está completamente fora de
questão. Pois Deus é a fonte (dele),
o sustentador (por meio dele) e o
objetivo (a ele) de tudo. Diante
desse Deus sábio e soberano a nossa resposta só pode ser a de Paulo: A ele, pois, a glória eternamente!
O evangelho e a
transformação de vida (12.1-15.13)
Paulo mostrou que o evangelho que ele
prega tem o poder de transferir os cristãos do reino pecado e da morte para o
reino da justiça e da vida. Deus está trabalhando para nos transformar a imagem
do seu Filho (8.29), mas devemos participar desse processo empenhando-nos para
tornar real essa transformação na nossa vida cotidiana. Uma nova forma de viver
não é consequência desse evangelho, mas parte desse evangelho, cujo propósito é
produzir a obediência por fé (1.5).
O apelo inicial de Paulo capta a
essência do que significa viver como cristão (12.1,2). Então seguem apelos
específicos relativos à unidade e aos
dons (12.3-8), o amor aos companheiros tanto fiéis quanto incrédulos
(12.9-21), as atitudes para com as autoridades (13.1-7) e novamente o amor
(13.8-10). Paulo encerra essa seção da carta com uma exortação longa ao forte e
a fraco na igreja de Roma (14.1-15-13).
O cerne da questão: Uma mente renovada
(12.1,2)
A convocação de Paulo para que
transformemos nossa vida não acontece em um vácuo. É apenas na perspectiva das misericórdias de Deus que o seu apelo se
torna relevante e que nossa obediência a ele se torna possível. Quando
reconhecemos tudo que Deus fez por nos em seu Filho, como Paulo analisou nos
capítulo 1-11, percebemos que oferecer-nos como sacrifício vivo é na verdade um ato razoável de adoração, ou seja,
um culto racional. Paulo nos encoraja
a considerar toda a nossa vida cristã como um ato de adoração, não é apenas o
que fazemos no domingo, dentro de uma igreja, que “atribui valor” a Deus, mas o
que Deus e o mundo veem em nós a cada dia e a cada momento da semana.
O
v. 2 explica de forma mais detalhada como esse oferecimento de nós mesmos deve
ser feito. O que se quer é nada menos que uma transformação total da nossa
visão de mundo. Já não devemos olhar para vida nos termos deste século, o domínio do pecado e da morte do qual fomos
transferidos pelo poder de Deus (cf
5.12-21). A essência da vida cristã bem-sucedida é a renovação de nossa mente de modo que possamos ser capazes de provar
qual a vontade de Deus, isto é,
reconhecer e pôr em prática a vontade de Deus em todas as situações com que nos
deparamos. Deus nos deus o seu Espírito, que está operando para transformar
nosso coração e mente por dentro, de modo que nossa obediência a Deus possa ser
natural e espontânea (cf. 7.6; 8.5-9; Jr. 31.31-34: 2 CO. 3.6,7; Ef. 4.22-24).
Humildade e dons
(12.3-8)
Paulo nos exorta a não pensarmos de
nós mesmos além do que convém, mas olhar para nós mesmos de maneira honesta e
objetiva. Devemos medir-nos a nós mesmos e não uns aos outros, pela medida da fé (metron pisteõs). Alguns estudiosos entendem que essa expressão
designa diferentes porções da fé que Deus deu a cada um de nós. O contexto no
entanto sugere que Paulo está falando aqui da nossa fé cristã comum, segundo a
qual cada um de nós deve medir-se a si mesmo. Deus
deu dons diferentes aos membros da igreja , o corpo de Cristo (4,5), é
necessário reconhecer a beleza da diversidade e complementariedade dadas por
Deus e conduzidas pelo Espírito dentro da igreja.
Paulo menciona dos específicos em duas
outras passagens (1 Co. 12.7-11,28; Ef. 7.11), e uma comparação desses textos
revela que em nenhum deles ele está buscando fornecer uma lista exaustiva.
Antes, em cada passagem, Paulo seleciona exemplos que serão relevantes para o
seu propósito. O objetivo de Paulo neste momento é incentivar cada cristão a
usar seus dons de maneira enérgica e apropriada e a não se preocupar com os
dons que os outros possam ter, ou com a maneira como possam estar utilizando.
Amor (12.9-21)
Esses versículos tem um tema
central: a exigência de amar aos outros, anunciada no v. 9, e que apresenta
como um título de toda a seção. Embora nenhuma demarcação rígida seja possível,
podemos dividir esse parágrafo em duas secções principais: v. 9-16 e 17-21. A
primeira seção tem seu foco voltado para as responsabilidades dos cristãos para
com os outros cristãos, enquanto a segunda (pronunciada no v. 14) se concentra
no relacionamento com as pessoas que se encontram fora da igreja.
O amor sem hipocrisia é o amor verdadeiro, sem fingimento (ver também 2 Co.
6.6; 1 Tm. 1.5; 1 Pe 1.22, do tipo que nasce do coração e da mente renovados.
Detestai o mal, apegando-vos ao bem (9) pode explicar o que é o amor sincero,
mas são provavelmente ordens independentes. Começando no v. 10 Paulo encoraja
os cristãos a procurar o amor sincero e fazer o bem em seus relacionamentos com
outros cristãos.
O
zelo (v. 11) com Deus e com as coisa de Deus deveria caracterizar os cristãos
como fez com o nosso Senhor (v. Jo.
2.17). Tal zelo, estimulado pelo
Espírito levará o cristão a servir verdadeiramente ao Senhor. Paulo lembra aos
cristãos brevemente (12) a atitude correta em relação a esperança, as
tribulações e a oração. O amor sincero também conduz a passos práticos na ajuda
aos cristãos que passam necessidade (13; v. também I Jo. 3.17,18).
Fica evidente a relação entre
mandamento de Paulo abençoai os que vos perseguem e o ensino de Jesus no Sermão
do Monte (5.44). O mandamento de Jesus provavelmente se tornou o elemento
principal da instrução da igreja cristã primitiva (v. também 1 Pe. 3.9). O
envolvimento empático com as alegrias e sofrimentos dos demais irmãos é a marca
do amor sincero para com irmãos e irmãs (10).
Na ultima seção desse parágrafo (17+21)
Paulo convoca os cristãos para que demonstrem amor sincero (9) para com aqueles
que se opõem a eles. Lembrando novamente os ensinamentos de Jesus Paulo proíbe
retaliações (17a; cf v. 19) e os incentiva a terem uma reação positiva: “Esforçai-vos por fazer o bem perante os
homens”. A paz com os outros nunca deve ser adquirida ao preço de nossas
convicções e testemunhos cristãos, assim ele acrescenta a qualificação quanto depender de vós.
Devemos nos lembrar que servimos a um
Deus justo e soberano, um Deus que prometeu vingar as injustiças daqueles que
são maltratados neste mundo (Dt. 32.35). devemos, portanto, não achar
necessário assumir o papel de vingadores, mas sim dar lugar a ira de Deus
(Deixem com Deus a ira). O v. 21: Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal
com o bem, é uma conclusão adequada desta seção (17-21), e indiretamente de
todo o trecho dos v. 3-20.
A responsabilidade
cristã em relação ao governo (13.1-7)
Paulo não conecta de maneira
explícita esse parágrafo com o anterior, e isso levou alguns estudiosos a
pensar que ele fosse talvez um acréscimo posterior pós-paulino ao texto de Romanos.
Mas não evidência textual para uma interpretação tão drástica. A passagem se
encaixa perfeitamente no contexto: submissão às autoridades é parte da “boa,
agradável e perfeita vontade de Deus” (12.2b) que Paulo estava descrevendo, e é
um exemplo concreto de “fazer o bem perante todos os homens” (12.17b). Tal
submissão é exigida, Paulo argumenta, porque as autoridades governamentais são
estabelecidas por Deus para servir aos seus propósitos de recompensar o bem e
punir o mal (b-4,5b).
As autoridades (no grego exousiai) claramente são as pessoas em posições de
autoridades nos governos seculares; na época de Paulo, é claro especialmente os
oficiais romanos imperiais e provincianos. Paulo nos lembra que cada autoridade
foi instituída (tetagmenai), por Deus,
sendo assim, ministro de Deus, ainda
que indireta ou inconscientemente (4.6). As autoridades governamentais servem a
Deus ao proteger os que fazem o bem (3b, 4a) e ao punir os que praticam o mal
(3a, 4b).
No entanto, a ordem aparentemente
absoluta para se fazer o que as autoridades pedem que façamos cria problemas
para a maioria dos cristãos. Alguns estudiosos argumentam que Paulo está
ordenando obediência apenas quando ele está cumprindo suas funções de
recompensar o bem e punir o mal. Uma alternativa mais atraente é que a
exigência de Paulo de que os cristãos se sujeitem as autoridades significa
simplesmente que eles reconhecem o lugar legítimo da autoridade na hierarquia
das relações estabelecidas por Deus, uma hierarquia em cujo topo se encontra o
próprio Deus. Quando, no entanto, o governo usurpa o lugar de Deus e nos manda
fazer algo contrário ao nosso Senhor, somos livres, aliás,
obrigados a desobedecer.
Esse ponto de vista, no entanto pode
enfraquecer indevidamente o significado de “submeter-se”. Talvez a melhor
solução então, seja entender 13.1-7 como uma declaração geral sobre as formas
de os cristãos se relacionarem com as autoridades, sendo que há exceções a
esses conselhos presumidas, embora não detalhadas aqui.
O amor e a lei
(13.8-10)
A primeira parte do v. 8 é
transicional. A ninguém fiqueis devendo
alguma coisa repete uma implicação importante extraída da necessidade de os
cristãos se submeterem ás autoridades (cf. v. 7a), e é a base para o lembrete
de Paulo que os cristãos têm uma dívida que nunca poderão pagar: o amor com que vos ameis uns aos outros.
Paulo retoma o tema do amor (cf. 12.9-21), destacando sua importância ao
apresenta-lo como cumprimento (8 e10) ou a síntese (9) da lei mosaica.
O que Paulo quer dizer quando insiste
que a obediência a esse mandamento “cumpre” ou “sintetiza” todos os outros
mandamentos não é a noção de que tudo que temos de fazer para agradar a Deus é
“amar” – como se disso decorresse que basta ter um sentimento de amor e se pode
fazer o que se quer, ou que o amor é o mandamento mais importante da lei. Antes
ele está dizendo que os cristãos agora cumprem as exigências da lei de Moisés
(pelo menos as que dizem respiro às nossas obrigações para com as pessoas) pelo
amor. Pois o amor está no cerne d a “lei de Cristo” (Gl. 6.2 cf. 1 Co.
9.21,21), a lei de Jesus tornou reguladora a vida no novo mundo em que vivemos.
Discernindo os tempos
(13.11-14)
Os cristãos devem discernir o tempo: uma época em que esperamos o
alvorecer iminente do dia (12). “o
dia do Senhor Jesus”, que trará a nossa salvação final. Paulo deixou claro em
5.9,10, a salvação é um processo que se completará só quando estivermos livres
do derramar da ira de Deus no último dia (v. também Fp. 1.19; 2.12; 1 Ts. 5.9).
Esse éo motivo do seu
O v. 14 defende a mesma ideia com uma
linguagem diferente: devemos nos revestir do Senhor Jesus de tal forma que tudo
o que fizermos seja feito por ele e para ele, não devemos sequer dar espaço a
qualquer daqueles desejos pecaminosos que se originam nesse mundo caído e
pecador (no grego sarx, “carne”,
natureza pecaminosa; v. comentário 7.5).
Apelos a unidade
(14.1-15-13)
Em 12.3-13.14 Paulo mencionou
componentes gerais da “boa, agradável e pereita vontade de Deus”, que devem
caracterizar os cristãos cuja mente está sendo renovada pelo poder do evangelho
(12.12). Agora Paulo discute um assunto específico dentro da igreja romana: a
divisão entre aqueles a quem ele chama de fracos (14.1,2; 15.1) e fortes [na
fé] (15.1). estes dois grupos estavam discutindo se os cristãos deveriam ou não comer carne
(14.2,6,21), observar dias religiosos especiais (14.5,6) e, possivelmente beber
vinho (14.21, cf v.17).
Devemos então presumir uma situação
na qual os cristãos judeus se vangloriavam de sua religiosidade estrita,
“condenando” (14.3) os que não adotam o mesmo padrão, enquanto muitos gentios,
não encontrando valor em tais práticas, estão ostentando sua liberdade nesses
assuntos (15-22) e “discutindo” (14.1) e “desprezando” (14.3) aqueles a quem
eles consideram “fracos” em afirmar sua liberdade em Cristo.
É significativo que Paulo não tenta
convencer os fracos de que ele esteja errado. Pelo contrário ele insiste em que
os fortes aceitem seus irmãos e irmãs mais fracos (14.1; 15.7) e, na verdade,
restrinjam o exercício da liberdade sobre essas questões controversas a fim de
promover a unidade e evitar ferir a fé dos fracos (14.13-22). Os fracos também
devem deixar de condenar os fortes e aceita-los como irmãos (14.3,13; 15.7).
Reprovação das atitudes
críticas (14.1-12)
Paulo reprova tanto os fortes como
os fracos por suas atitudes críticas (1-3) fazendo-os lembrar que eles não tem
o direito de julgar aqueles a quem Deus aceitou (4-12). Cada grupo deve parar de criticar o outro,
reconhecendo que todos são servos do mesmo mestre, o único que tem em si o
direito de julgá-los (4). É diante de seu próprio mestre (tõ idiõ kyriõ, provavelmente um dativo de referencia), o Senhor,
que cada cristão fica em pé ou cai –
isto é, persevera ou falha na fé (cf. 11.20,22). E Paulo está convencido de que
aqueles a quem Deus aceitou (3) irão perseverar por que é o próprio Senhor que
os sustém (4).
Paulo
relembra aos dois grupos, os cristãos não são autônomos: a sua liberdade deve
ser estabelecida em termos de serviço ao Senhor que morreu e ressuscitou por
eles (7-9). Deus – não outros cristãos – é aquele perante quem todos os
cristãos são responsáveis e perante o qual teremos de responder por nossos
comportamentos. Portanto, não é correto que julguemos nossos irmãos, cuja
prática em questões discutíveis pode ser diferente da nossa (10-12).
Os limites da liberdade
(14.13-23)
Depois de mais um apelo aos dois
grupos – não julguemos uns aos outros – Paulo se volta aos fortes na fé exortando-os:
tomai o propósito de não pordes tropeço
ou escândalo (13) no caminho do irmão mais fraco. Essa é a ideia central da
seção, com os v. 14-21 elaborando e explicando essa ordem. Os v. 22-23 tratam
de uma maneira mais gral dos dois grupos.
O forte está criando para o fraco
uma situação de pecado ao continuar a ingerir alimento que o fraco considera
“impuro”. O próprio Paulo afirma vigorosamente que nenhuma coisa é de si mesmo impura, alinhando assim
com o ensinamento de Jesus (Mc. 7.17-19). Paulo entende e deseja que os
cristãos em Roma entendam que a vinda de Cristo significa que a lei judaica a
respeito da pureza espiritual já não se aplica. Embora Paulo não utilize aqui a
palavra, ele está preocupado que a “consciência” dos fracos seja violada (1 Co.
8.7,10) se eles cederem à pressão para ingerirem alimentos que consideram
“impuros”.
Este comer contra a consciência é o
que Paulo tem em mente com a “angústia” do cristão mais fraco no v. 15.
Dirigindo-se individualmente agora ao cristão forte a fim de elucidar sua tese
Paulo o relembra que comer sem preocupação alguma com o efeito que isso terá
sobre o mais fraco é uma violação do princípio cristão fundamental do amor
(12.9,10; 13.8-10). Além disso ao encorajar o mais fraco a comer contra a sua
consciência, o forte pode fazer perecer aquele
por quem Cristo morreu.
Uma segunda razão para o forte se
abster de ostentar sua liberdade é que tal comportamento, por causar tristeza e
desunião na comunidade, põe o evangelho em descrédito perante os que não são
cristãos. Os incrédulos, ao ver na igreja discussões sobre a comida e a bebida, em vez
de justiça e paz e alegria no Espírito Santo (17), não enxergarão o
evangelho com bons olhos. O forte deve buscar paz e edificação de uns para com
os outros (cf. v. 17; 1 Co. 10.23). O exercício da liberdade cristã, como Paulo
também enfatizou (Gl. 5.1; 1 Co. 6.12), deve ser sempre subordinado às
necessidades dos outros.
Paulo completa seu apelo aos fortes
recomendando que mantenham para si mesmo o que pensam a respeito dos alimentos,
dos dias especiais e bebidas. Não há necessidade de que comam carne na frente
de todos os que podem se espiritualmente prejudicados.
O chamado final à
unidade (15: 1-13)
A conclusão do apelo de Paulo por
tolerância na igreja romana se divide em quatro partes: um último apelo aos
fortes (1-4), uma oração pela unidade entre todos os cristãos em Roma (5,6); um
último apelo (com apoio das Escrituras) aos fracos e aos fortes (7-12) e uma
oração de encerramento (13).
Os v. 1-4 estão relacionados
estreitamente a 14.13-23, na medida em que Paulo, usando a palavra pela
primeira vez insta aos fortes (dynatoi)
a suportar as debilidades dos fracos
(1). O uso da primeira pessoa no plural (nós)
mostra que Paulo se inclui entre os fortes (cf 14.14). O termo suportar (bastazein) sugere que os fortes devem fazer mais do que simplesmente tolerar
os fracos, eles devem ajudá-los com uma atitude de amor (cf Gl. 6.2). Isso é confirmado pelos v. 2,3, que desenvolvem a
advertência de Paulo de não agradar-nos a
nós mesmo no final do v. 1. O incentivo para agradar ao próximo nos lembra
do mandamento do amor (12.9; Lv. 19.18) e a alusão ao sacrifício de Cristo em
se entregar em benefício dos outros.
O lembrete de Paulo no v. 4 sobre a
relevância contínua do que outrora foi
escrito (v.4) tem o propósito imediato de justificar a citação no v. 3.
Paulo ora ao Deus que dá paciência e
consolação (5) que ele acaba de mencionar como a finalidade do Ensino das
Escrituras. Não fica claro se o mesmo
sentir de uns para com os outros (5) significa concordância entre os fortes
e os fracos em assuntos que os dividem ou, o que é mais provável, a aceitação e
o respeito mútuos em meio a adversidade de pontos de vista.
Existe uma linha que ensina que essa
seria uma orientação para que os cristãos imitem o exemplo de Cristo, mas a
expressão também poderia significar “de acordo com a vontade de Cristo” (v. II
Co 11.17). O objetivo dessa unidade é claro: unir vozes em adoração fervorosa a
Deus. A falta de unidade não somente prejudica a nossa caminhada com Deus e a
nossa reputação como aqueles que não são cristãos, como também prejudica nossa
capacidade de dar a Deus a glória que ele mercê.
Paulo faz um apelo básico aos cristãos: acolhei-vos uns aos outros (7), o
fundamento mais importante para esse apelo como
também Cristo nos acolheu, é o propósito mais elevado desse apelo para a glória de Deus. Paulo lembra aos
gentios que Cristo continua a se preocupar em alcançar os da “circuncisão”, os
judeus. O ministério de Cristo aos judeus, no entanto tem um propósito mais
amplo: é feito por causa da fidelidade (aletheia)
a suas promessas. Quando essas promessas forem confirmadas, o resultado (9)
será que os gentios serão capazes de se juntar aos judeus na glorificação a
Deus por sua misericórdia.
As citações nos v. 9b-12 enfatizam a
inclusão que Paulo faz dos gentios no povo de Deus. As palavras do Sl. 18.49
citadas no v. 9b provavelmente são entendidas por Paulo como palavras do
Messias: é anunciado que os gentios se unirão ao Messias quando este cantar
louvores a Deus. A presença da comunidade messiânica também é prevista nas
Escrituras quando elas dizem que eles se alegrarão em Deus junto com Israel
(10; Dt. 32.43), cantando louvores ao Senhor (11; Sl. 117.1) e colocando a sua
esperança no Messias, a raiz de Jessé (12; Is. 11.10).
O v. 13 parece quase isolado do contexto
anterior, mas a oração de Paulo para que os cristãos sejam cheios de toda alegria e paz nos reporta a
14.17,19. Da mesma forma a ênfase na esperança
(ver também v. 4) faz sentido como conclusão de uma discussão que questionou a
situação atual da igreja e instou seus membros a dar passos difíceis para
melhorar a situação.
A conclusão da carta
(15.14-16.27)
Romanos com as características típicas
das seções de encerramento das cartas de Paulo: um esboço dos planos de viagem
(15.22-29); um pedido de oração (15.30-32); o desejo de paz (15.33);
recomendações e saudações (16.1-15,16b); o ósculo santo (16.16a); saudações
finais aos colaboradores e ações de graças e bênçãos (16.20-27). O que
diferencia a seção de cerramento de Romanos das demais cartas de Paulo é o
espaço longo dedicado a muitas dessas questões e o acréscimo de uma seção em
que Paulo explica suas razões de ter escrito a carta (15.14-21).
O ministério e os
planos de Paulo (15.14-33)
Pela vontade de estabelecer uma boa
relação com os cristãos de Roma Paulo deixa claro que ele está escrevendo não
porque há problema grave na igreja de Roma. Ele louva os cristãos romanos por
sua bondade e conhecimento (14) (cf.
1-8) observando que eles têm capacidade de admoestar
uns aos outros. Paulo não teria feito tais elogios se não acreditasse que a
igreja em Roma era basicamente sólida e estável. Todavia, Paulo sabe que até
mesmo as igrejas mais maduras precisam ser lembradas da verdade do evangelho
(15), e que toda igreja também tem seus problemas, não seria diferente com a de
Roma (11.12-27,14.1-15-13).
Embora evite qualquer insinuação de
condescendência ou autoritarismo, Paulo insiste, no entanto que a sua
autoridade como um ministro de Cristo
entre os gentios (16) se estende aos cristãos romanos (cf. 1.5,6). Paulo
descreve seu ministério com a linguagem do culto, ele descreve a sua
proclamação do evangelho como um dever
sacerdotal e os seus gentios convertidos como oferta aceitável a deus, ou seja, Paulo dá a entender que o culto
do AT, com seus sacerdotes e o tabernáculo ou o templo, encontra seu
cumprimento no ministério do evangelho (observe 12.1).
O final do v. 19 menciona o poderoso
ministério sacerdotal e apostólico de Paulo: desde Jerusalém e circunvizinhança até o Ilírico, tenho divulgado o
evangelho de Cristo. O Ilírico era uma província romana que ocupava uma
área aproximada a área ocupada antigamente pela Iugoslávia e Albânia. Jerusalém
foi o ponto de partida para as missões cristãs, enquanto o Ilírico era o local
mais distante alcançado pela pregação de Paulo.
Paulo “divulgou” (pleroõ; NVI; “proclamei plenamente”) o seu evangelho nessas áreas,
pois sua missão era pregar o evangelho
não onde Cristo já fora anunciado (20). Sua obrigação de cumprir sua missão
ao leste o impedira de vir a Roma até o momento (22). Mas com o término dessa
missão, Paulo agora pode satisfazer o seu desejo de longa data de visitar Roma
(cf. 1.10-15). Ainda assim Roma seria apenas uma escala para uma viagem a
Espanha (24,28). Uma das razões para Paulo parar em Roma foi obter ajuda dos
cristãos para a sua viagem.
Antes que Paulo possa colocar em prática
o seu plano, no entanto ele tem uma tarefa mais imediata: ministrar (diakonõn, NVI “a serviço dos”) aos
cristãos em Jerusalém (25). Esse ministério como os v. 26,27 revelam, é a
entrega aos cristãos de Jerusalém de uma oferta em dinheiro recolhida de muitas
das principais igrejas cristãs gentílicas plantadas por Paulo. Paulo sentia que
era certo que os cristãos gentios retribuíssem com bens materiais (27) que
tinham herdado dos judeus (cf 11.17,18).
Paulo indubitavelmente via essa ajuda como um meio prático de estreitar o
relacionamento entre gentios e judeus.
É talvez à luz desse propósito que Paulo
pede aos cristãos romanos por orações para o êxito da coleta (30-32). Paulo
lhes pede que orem especificamente por duas coisas: que ele possa se ver livre dos rebeldes que vivem na Judéia e
que este meu serviço (coleta) possa ser bem
aceito pelos santos em Jerusalém. A oração de Paulo para que o Deus de paz
esteja com os cristãos romanos (33) é paralela a pedidos semelhantes em muitas
de suas outras cartas (2 Co 13.11; Fp 4.9; 1 Ts 5.23 2 Ts 3.16; cf também 16.20).
Recomendações e
saudações (1.1-16)
A recomendação de um companheiro
cristão e as saudações são comportamentos típicos de encerramento das cartas de
Paulo. O que não é típico nesse texto é o número sem paralelos de pessoas a
quem Paulo saúda: são mencionadas 27 pessoas.
Ao se referir a Febe como uma irmã que está servindo à igreja de Cencréia (uma
cidade à oito quilômetros a leste de Corinto), Paulo pode simplesmente estar
dizendo que ela é cristã e chamada, como todos os cristãos, a ser uma serva (1) de Cristo e da Igreja (v. 1
Pe. 4.10). Mas, com o acréscimo da expressão com um toque oficial à igreja de Cencréia, é mais provável
que Paulo está identificando Febe como alguém que exerce a função de diaconisa
(cf. Fp. 1.1; 1 Tm. 3.8,12); muitos
veem 1 Tm 3.11 como uma referencia a existência de diaconisas).
As saudações de Paulo não obedecem uma
sequencia óbvia, mas talvez comecem por aqueles a quem Paulo conhece melhor e
com quem trabalhou pessoalmente (3-7) e terminem com os ele não conhece tão bem
(8-15). Paulo saúda nove mulheres nessa passagem, seis das quais são descritas
como companheiras de trabalho ou como as que muito [...] trabalhavam no Senhor (12). Nada nas palavras
utilizadas por Paulo nos permite identificar a natureza de seus ministérios,
mas devemos dar o devido reconhecimento ao papel fundamental desempenhado pelas
mulheres nos ministérios variados da igreja primitiva – também nos ministérios
de hoje.
O ósculo (16a) como forma de saudação,
cumprimento ou despedida era difundido no mundo antigo e foi adaptado pela
igreja primitiva (1 Co 6.20; 2 Co 12.13; 1 Ts 5.26; 1 PE. 5.14). Deve ser, no
entanto, um ósculo santo, totalmente
desprovido de qualquer conotação erótica ou pagã.
A advertência acerca
dos falsos mestres (16.17-20)
Tão abrupta é a súbita advertência
de Paulo sobre os falsos mestres que alguns estudiosos acreditam que essa
passagem não pertence a esta seção da carta. Paulo não deixa claro a quem ele
se refere em sua advertência aos cristãos romanos. Ele os descreve como
provocadores de divisão e escândalos
(cf 9.33; 11.9; 14.13) entre os cristãos (17). Eles falam com suaves palavras e lisonjas para tentar
enganar os possíveis inocentes e incoutos
(18). Eles se preocupam com seu próprio ventre (lit. sua própria barriga), mas
mesmo essa indicação mais específica em nada nos ajuda a identificar quem eles
eram.
Sejam eles quais forem, Paulo insta
aos cristãos romanos a que identifiquem (que
noteis bem) e mantenham distância deles (afastai-vos deles, 17). Essa ultima advertência não significava que
a igreja deveria excomunga-los (cf. 1
Co 5.1-5), mas que deveria evitar o convívio com eles. Paulo encoraja os
cristãos a serem sábios para o bem e
símplices para o mal (19b, cf. Mt. 10.16). Ao fazê-lo eles podem ter a
certeza que o próprio Deus tomará medidas contra os que estão tentando
enganá-los: e o Deus de paz, em breve
esmagará debaixo dos vossos pés satanás (20).
Pode ser que Paulo esteja insinuando que
esses falsos mestres, vistos como asseclas de satanás, serão rapidamente
esmagados. Mas é mais provável que ele esteja pensando aqui no grande clímax do
final dos tempos quando, em cumprimento de Gênesis 3.15, Deus obterá a vitória
triunfal sobre satanás. A paz (20)
que Deus por fim criará é resultante tanto da libertação de seu povo como do
julgamento dos seus inimigos.
Saudações finais e
doxologia (16.21-27)
Paulo conclui a carta com saudações
de três cooperadores (21-23) e uma doxologia (25-27). Timóteo (21) foi um companheiro de Paulo desde o inicio da segunda
viagem missionária (At 16.3), e agora está com Paulo em Corinto. Tércio (22), nunca mencionado em outras
cartas do NT, é copista de Paulo, ou escriba que anotava as palavras que Paulo
lhe ditava. Gaio (23), em cuja casa uma das comunidades cristãs se reunia é
quase com certeza o mesmo Gaio mencionado em 1 Coríntios 1.4, e talvez deva ser
identificado como Tício Justo em (At.
18.7).
A doxologia de Paulo, além de
concluir a carta com uma nota sublime de declaração à glória de Deus, também
resume de maneira eficaz alguns dos temas principais da carta. A defesa da
explicação que Paulo faz do evangelho que prega são, como temos sugerido, o
tema central da carta. Paulo agora nos lembra de que é por meio desse evangelho que Deus nos “confirma” em
nossa fé (25). Esse evangelho , que proclama Jesus Cristo (a pregação de Jesus Cristo é provavelmente uma explicação), é um mistério que só recentemente foi
revelado (25b, 26a).
Se
tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas
(26) é provavelmente um paralelo à revelação e não algo subordinado a ela (como
a NVI
interpreta): acrescenta uma segunda descrição do evangelho no v. 25, que
também retoma um dos temas principais da
carta. A revelação e a difusão do evangelho tem ocorrido sob as ordens do
próprio Deus e tem o propósito de que todas as nações possam obedecer por fé.
Enquanto continuamos a perseguir a realização desse propósito pela nossa
pregação do evangelho, somos lembrados de que isso é para glória final do Deus único e sábio.
REFERENCIA
BIBLIOGRÁFICA
·
CARSON, D. A. et all. Comentário
Bíblico Vida Nova. São
Paulo. Editora Vida Nova. 1ª edição,
2009.
CONSIDERAÇÕES
SOBRE OS TRABALHOS REALIZADOS
Cursar essa disciplina foi muito
relevante para minha vida, pois me permitiu aprofundar os conhecimentos acerca
da Epístola estudada e mesmo me sentido impactada, para não dizer chocada, com a
descoberta de alguns pontos polêmicos de difícil compreensão e aceitação,
através da produção do texto sobre a lei e a graça, da leitura do comentário
bíblico e de algumas discussões realizadas em sala de aula, faço como fez o
apóstolo Paulo que reconheceu a soberania de Deus e se curvou para render
somente glória (Rm 11.33) e jamais questionar os propósitos de Deus e os meios
utilizados para que o propósito seja alcançado.
Sobre os comentários lidos dois chamaram
a minha atenção: o primeiro se refere a Romanos 6.14b no qual o Paulo afirma de
que o cristão não está “debaixo da lei, e sim da graça”, alguém pode entender
com isso que não há mais regras às quais
o cristão deva obedecer, e nenhuma pena para qualquer pecado que ele venha
cometer. Ser livre do pecado, segundo Paulo, não significa que os cristãos
sejam autônomos, que vivam sem mestre ou sem quaisquer obrigações. Significa
sim, uma nova escravidão, mas dessa vez à justiça (18,19) e a Deus (22).
Somente ao dobrar os joelhos diante de Deus uma pessoa pode se tornar o que
Deus originalmente pretendia que essa pessoa fosse: “justa” (em conformidade
com os padrões de comportamento estabelecidos por Deus) e “santa” (levando uma
vida centrada em Deus e renunciando aos padrões mundanos).
Podemos observar aqui um paradoxo, por
vezes difícil de compreender, Deus nos liberta não para sermos livres, Deus nos
liberta do poder do pecado e das paixões pecaminosas, mas nos faz seus
escravos, entretanto essa “escravidão” traz a verdadeira liberdade visto que o
homem é resgatado ao seu estado original, o de cumprir o propósito para o qual
foi criado, viver para glória de Deus, somente vivendo para a glória de Deus o
homem poderá de fato se sentir livre e feliz.
O outro comentário é o
referente ao texto do capítulo 8 v. 33-35: Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os
justifica; 34 Quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes
quem ressurgiu dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também
intercede por nós; 35 quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação,
ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a
espada? 36 Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o
dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro.
O autor do comentário diz: Ninguém é
capaz de ser bem sucedido em alguma acusação contra nós que tenha a intenção de
nos levar à condenação no juízo, pois é o mesmo Deus, o Deus que nos justificou
e escolheu a nós e ao seu próprio Filho, que reponde a qualquer acusação contra
nós. Separar-nos do amor de Deus é algo tão impossível quanto fazer uma
acusação contra nós. Nenhum perigo ou desastre desse mundo pode fazê-lo
(35b,36), nem qualquer poder espiritual (38). Na verdade não há nada em toda a
criação que pode nos retirar do novo domínio, no qual o amor de Deus em Cristo
reina sobre nós.
É maravilhoso entender que temos um
justo juiz, que pelo sacrifício de Jesus e seu sangue nos justificou e ninguém
há que possa nos condenar e muito menos nos separar dele, a semelhança de que sobre
uma carta selada só tem poderes o seu destinatário, ninguém pode violá-la sem
que receba a devida autorização, fomos selados pelo Espírito de Deus para
Cristo e só Ele tem poder sobre nós e se não for com Sua permissão ninguém
poderá nos “violar”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário