Pesquisar este blog

terça-feira, 3 de julho de 2012

Livro de Ramanos



Seminário Teológico do Betel Brasileiro e Ação Evangélica
Curso: Superior emTeologia
Semestre: 2012.1
Disciplina: Análise de Romanos
Professor: Gildelânio da Silva
Aluna: Umbelina Rodrigues de Sousa
 


FICHAMENTO DO COMENTÁRIO BÍBLICO DO LIVRO DE ROMANOS
(COMENTÁRIO BÍBLICO VIDA NOVA)

Segundo Douglas J. Moo, autor deste Comentário Bíblico a Carta de Paulo aos Romanos é um dos mais importantes documentos teológicos já inscritos, a sua influencia foi enorme, visto que a mesma moldou o ensino de Agostinho, Calvino, Lutero, Wesley, dentre outros. Algumas circunstâncias em que a carta foi escrita são apresentadas pelo autor do comentário.
Quanto às circunstancias do autor da carta, o mesmo dá alguns detalhes: ele está a caminho de Jerusalém e de lá pretende viajar à Espanha para iniciar uma nova obra evangelística no local, mas antes pretende fazer uma escala em Roma de acordo com a narrativa de Lucas em Atos. Paulo escreveu Romanos no final da sua terceira viagem missionária, provavelmente durante uma estadia de três meses na Grécia (At 20.3-6) e Paulo passou maior parte desse tempo em Corinto (2Co 13.1,10).
Quanto a Igreja de Roma provavelmente peregrino vindos de Roma, que se converteram com a pregação de Pedro no dia de Pentecostes, tenham sido os que levaram o Evangelho a grande população judaica da Capital (At 2.10). O historiador Suetônio observa que o imperador romano Claudio expulsou os judeus de Roma, com essa expulsão, os gentios, que eram a minoria dos fiéis, agora eram os únicos cristãos na cidade, assim quando Paulo escreveu a carta, os gentios que agora era maioria, é quem davam o tom tanto na liderança quanto na teologia.


História do texto


Há muitas teorias acerca dos capítulos 14 a 16, principalmente no que se refere àdoxologia, que em alguns manuscritos aparece no final do capitulo 14 e 16 e em outro no final do capítulo 15, e ainda outros manuscritos omitem todo o capitulo 15, o que sugere que o formato da carta em 16 capítulos que temos hoje pode ter sido precedido de um formato de 14 ou 15 capítulos, em torno do qual, muitas conjecturas foram levantadas.Para Orígenes, o mais provável foi que Marcião (um teólogo do século II que não gostava das influencias do AT e dos elementos judaicos no cristianismo) tenha removido esses capítulos. Temos boas razões, entretanto, para pensar que a carta impressa em nossas Bíblias é substancialmente idêntica à carta que Paulo escreveu à igreja de Roma.

Destinatários
Vários elementos da carta apontam principalmente, se não exclusivamente, para destinatários judeus, mas há indicações de que a carta também tem em mente leitores gentios. Romanos manifesta uma natureza dupla, a melhor explicação para essa evidência, no entanto, é a suposição de que a comunidade Cristã a quem Paulo se dirigia era composta tanto de judeus como de gentios. Todavia a maneira como Paulo se apresenta a igreja com seu ministério para os gentios em 1.5,6, sugere que os gentios constituíam tamanha maioria, que a igreja tinha incorporado um toque e uma identidade gentílica.

Gênero literário
Embora Romanos tenha a abertura e a conclusão típicas de uma carta (1.1-15; 15.14-16.27), sua característica mais marcante é a sua consistente argumentação teológico pastoral em 1.16-11.36. A dinâmica da carta é ditada pela lógica interna do evangelho e não por questões locais. Isso não significa que Paulo escreveu a carta no vácuo: Romanos não é um tratado teológico atemporal, mas uma carta escrita para uma igreja específica em uma situação específica. O caráter distintivo da carta excede em muito a importância da sua conformidade com as práticas literárias ou retóricas da época.

Propósito
O propósito de Paulo ao escrever essa carta foi apresentar-se aos romanos e explicar aquilo em que ele acreditava, o intuito era acabar com a divisão no seio da igreja em Roma. A divisão era especificamente entre os cristãos gentios (os “fortes”) e os cristãos judeus (os “fracos”), isso explica porque Paulo passa tanto tempo na carta expondo cuidadosamente sua teologia sobre esses dois grupos. O desejo de Paulo é abordar essa questão teológica central e permanente (relação entre lei e evangelho, judeus e gentios, Israel e a igreja) que confere a Romanos seu caráter universal singular.

Tema
Para alguns o tema central da carta é a continuidade da história da salvação, para outros, como os reformadores protestantes o tema central é a justificação pela fé. Mas segundo o autor do comentário em questão “nenhum desses conceitos é suficientemente amplo para abranger o conteúdo da carta como um todo. Por isso tivemos que identificar um único tema para a carta, este tem que ser “o evangelho”. A palavra é importante na introdução(1.1,2,9,15) e na conclusão (15.16,19) da carta, e tem lugar de honra naquela que é identificada como a declaração do tema da carta: Pois não me envergonho do Evangelho de Cristo, porque é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (1.16)”.

COMENTÁRIO

Preâmbulo (1.1-7)
O preâmbulo de Romanos é notável por sua extensão e detalhes teológicos. Paulo descreve quem ele é em termos de seu chamado divino, o evangelho que ele prega e o ministério especial que Deus lhe deu. Paulo entra nesses detalhes porque precisa apresentar suas “credenciais diante” de uma igreja que ele nunca havia visitado. Tendo se apresentado no v. 1,
Paulo caracteriza brevemente esse evangelho nos v. 2-4, e toca num tema que se tornará central para os romanos: a continuidade entre o plano de Deus no AT e sua culminação no NT e o evangelho tem no seu cerne numa pessoa: O Filho de Deus, Jesus Cristo nosso Senhor.
Paulo também mostra seu propósito de chamar os gentios tanto à aceitação do evangelho pela fé, como a uma contínua obediência às exigências do evangelho. Crer e obedecer são duas coisas inseparáveis: as pessoas não podem verdadeiramente obedecer a Deus sem antes dobrar os joelhos ao Senhor Jesus em fé; e as pessoas não podem crer verdadeiramente no Senhor Jesus sem obedecer a tudo que ele nos ordenou.

Ações de graça e ocasião (1.8-15)
Paulo expressa sua gratidão porque em todo mundo era conhecida a fé dos cristãos em Roma, e em seguida fala do seu desejo de visitar e ministrar à igreja de Roma, e assegura-lhe que a sua ausência não foi por falta de vontade, mas por falta de oportunidade: ele fora impedido de visita-los (13).  O proposito que Paulo tinha em visitar a igreja de Roma era repartir com eles algum dom espiritual (11), conseguir igualmente entre vós algum fruto (13) e anunciar o evangelho entre eles (15).O desejo de Paulo de ministrar em Roma não resulta de um impulso egoísta, mas sim da consciência de que Deus o chamara e equipara para um propósito (v. ICoríntios 9.16b: “Ai de mim se não pregar o evangelho”).

O tema da carta (1.16-17)
No v. 16, como sempre em Paulo, a salvação se refere ao ato de Deus de salvar o pecador de pena do pecado. A insistência de Paulo em que essa salvação é para todo aquele que crê soa como uma nota que ecoará ao longo de toda a carta.
O evangelho é a fonte de poder de Deus para salvar visto que a justiça de Deus nela se revela. Essa “justiça de Deus” é um tema central em Romanos (3.5,21,22,25,26; 10.3), fora romanos Paulo usa essa expressão somente em 2Coríntios 5.21.A justiça de Deus é revelada, então à medida que o evangelho é pregado e as pessoas respondem à mensagem pela fé. Uma das características distintivas de Paulo sobre a justiça de Deus é a sua insistência quanto à sua ligação com a fé.

O EVANGELHO E A JUSTIÇA DE DEUS PELA FÉ (1.18-4.25)
A citação de Habacuque 2.4 no v. 17 introduz o tema da primeira grande seção que forma o corpo da carta aos Romanos: a revelação há muito prometida, da justiça redentora de Deus em Jesus Cristo, e a fé como único meio pelo qual o ser humano pode experimentar essa justiça.
Paulo mostra que, os judeus, assim como os gentios estão sujeitos ao domínio do pecado e necessitam do evangelho da justiça de Deus. Assim após expor o pecado e a necessidade dos gentios em 1.18-38, Paulo gasta um tempo considerável mostrando que a situação dos judeus em nada era melhor (2.1-3.8).

A ira de Deus em relação aos gentios (1.18-32)
Alguns teólogos tem dificuldade em conciliar a ideia de ira com o Deus da Bíblia. Mas a Bíblia constantemente retrata Deus como um Deus que age para julgar o pecado. A ira de Deus não é, evidentemente, uma fúria emocional, mas uma oposição firme e absoluta a tudo que é mal. É algo que é parte da essência do caráter de Deus.
Paulo mostra primeiro como a ira de Deus sobreveio merecidamente aos gentios, ele apresenta o retrato da situação dos gentios em geral esboçado contra o pano de fundo da queda original; ele retrata cada pessoa como sendo o seu “próprio adão”, ou seja, repetindo o mesmo pecado cometido por nossos primeiros pais.
Paulo deixa claro que os gentios de sua época, assim como as pessoas de hoje que nunca ouviram o evangelho ou leram a bíblia, têm realmente “visto” algo de Deus e quem ele é. Mas alguns dos que recebem essa verdade, não respondem a ela da forma como deveriam.
A rejeição de Deus por parte de ser humano leva à punição do ser humano por parte de Deus. Os v. 29-31 mostram como a falha humana em dar a Deus o que lhe é devido trouxe sobre a raça humana males destrutivos, de todos os tipos, que vão desde a difamação até o homicídio.

A IRA DE DEUS EM RELAÇÃO AOS JUDEUS (2.1-3.8)
    Em 1.18-32, Paulo descreveu o pecado eo julgamento dos gentios usando a terceira pessoa: “eles” se afastaram de Deus. Deis “os” entregou. Na maior parte do capítulo 2, porém, Paulo usa a segunda pessoa do singular, como no v. 1: Portanto és indesculpável. Essa mudança de pessoa não significa que Paulo esteja agora se dirigindo diretamente a um destinatário em Roma. Ele está usando um recurso literário popular no mundo antigo por meio do qual o autor se dirige a um adversário ou companheiro imaginário como um meio vívido de fazer suas teses chegarem a quem os assiste (esse estilo era chamado de diatribe).
Então em toda passagem 2.1-3.8 Paulo se concentra nos judeus. Ele demonstra que a condição dos judeus diante de Deus não é diferente da dos gentios (2.1-16) a despeito do fato de eles possuírem dadivas genuínas de Deus como a lei e a circuncisão (2.17-29). O proposito de Paulo é colocar o judeu na mesma categoria que o gentio pecador do capítulo 1.

O juízo imparcial de Deus (2.1-16)
Paulo mostra que a imparcialidade de Deus, ensinada no AT e no judaísmo, exigia que ele não tivesse preferência, mas tratasse a todos da mesma maneira (6-11). O judeu que não se arrepender sinceramente não escapará do juízo simplesmente por fazer parte do povo da aliança.
Paulo aplica abertamente esse ensinamento sobre a imparcialidade de Deus tanto ao judeu quanto ao gentio (9,10) revelando seu propósito geral de mostrar que o padrão do juízo de Deus para o judeu em nada diferirá do padrão de juízo de Deus para os gentios.
Paulo ensina que fazer o mal acarretará a ira de Deus e os que fazem e bem receberão a vida eterna, com isso ele não quer mostrar como as pessoas podem ser salvas, mas estabelecer padrões de avaliação que Deus usa além do evangelho Esses padrões são os mesmos para todos – seja, eles judeus ou gentios, negros ou brancos.A lógica desses versículos pressupõe que não há uma só pessoa que seja capaz de obedecer a lei de Deus o bastante para ser justificada diante dele.

A lei e a circuncisão (2.17-29)
Paulo não nega o valor da lei nem da circuncisão ou da condição especial dos judeus, mas nega que esse relacionamento especial confira imunidade automática perante o juízo de Deus.Paulo afirma que a circuncisão só teria valor se o judeu observasse a lei, ou seja o judeus que violasse a lei perderia o valor da circuncisão.
O simples fato de pertencer a Israel, simbolizado na circuncisão, não pode salvar uma pessoa do justo juízo de Deus, pois Deus juga uma “pessoa segundo o se procedimento”(2.6)e é apenas pela “observância da lei” que a circuncisão terá valor. Paulo não está ensinando que a circuncisão tem benefício salvífico quando acompanhada do beneficio da lei, mas que a circuncisão nunca tem poder salvífico, pois ninguém é capaz de cumprir a condição de observar a lei.

A fidelidade de Deus (3.1-8)
    O maior dom de Israel são as escrituras, a própria palavra de Deus (do grego, talogia, “os oráculos, utilizado 24 vezes no Sl 119). É bem verdade que alguns judeus não se mostraramfiéis a essa palavra: eles nem obedeceram a lei, nem aceitaram Jesus pela fé. Mas a infidelidade humana nunca poderá diminuir a fidelidade de Deus  (3). Mesmo quando o home é mentiroso, Deus continua a ser verdadeiro (4a). Embora o aspecto positivo da fidelidade de Deus esteja presente, o v. 4b sugere que também há um aspecto negativo dessa fidelidade.
O ponto é que Deus é justo quando julga, à luz disso, deveríamos entender que Paulo está afirmando nos v. 3,4 a fidelidade de Deus em todos os aspectos de sua palavra a Israel. E essa palavra tanto promete benção pela obediência quanto ameaça de juízo pela desobediência (cf. Dt 28; 30.11-20). O fato de os judeus não obedecerem a palavra de Deus trouxe juízo sobre eles, e por isso destacou a fidelidade de Deus em sua palavra de ameaça e juízo sobre o pecado. Mas qualquer que possa ser o resultado positivo do pecado, Deus nunca é injusto em castigá-lo.

A culpa de toda a humanidade (3.9-20)
    Embora as breves questões que iniciem o v. 9 o conectem aos v 1-8, fica claro que Paulo começa aqui uma síntese e aplicação do argumento que ele começou com 1.18. Ele demonstrou que a ira de Deus recai com justiça tanto sobre os gentios (1.18-23) como sobre o0s judeus (2.1-3.8). Assim, conclui Paulo, todos os povos estão “debaixo do pecado”. Paulo reforça essa conclusão com uma prova do AT (10-18) e então aplica o princípio aos judeus (19,20).Paulo pode validamente extrair essa conclusão universal dos judeus porque ao demonstrar o pecado do próprio povo da aliança ele provou a parte mais difícil de sua tese. Se até mesmo os judeus são condenados, então ninguém pode escapar da mesma sentença.
O fato de todas as pessoas estarem “debaixo do pecado” (3.9) significa que nenhuma pessoa pode sempre obedecer a lei de Deus o suficiente para merecer se apresentar diante dele. Ao considerar as “obras da lei” dos judeus insuficientes para alcançar salvação, Paulo implicitamente considera inadequadas também todas as “obras” humanas. O poder do pecado mantém todas as pessoas sob seu domínio inexorável, e nada do que nós fizermos pode nos libertar disso.

A justiça de Deus (3.21-26)
Paulo desenvolve o tema sobre a justiça de Deus em quatro etapas. Primeiro quando ele anuncia “a justiça de Deus”, está se referindo a uma ação que é de Deus (como em 1.17) e não um dom ou condição que “provém de Deus” (NVI); segundo Paulo destaca o caráter universal da justiça de Deus, ou seja, experimentar a ação justificadora de Deus é algo possível somente mediante a fé em Jesus Cristo, e é para todos e sobre todos os que creem, pois todos igualmente precisam da justiça de Deus uma vez que todos pecaram e carecem da gloria de Deus (22,23).
Aterceira parte do paragrafo chama a atenção para a fonte da justiça de Deus. Sendo justificados no inicio do v. 24 faz referência à justiça de Deus nos v 21 e 22. A ação de Deus de colocar as pessoas em um novo e justo relacionamento com ele é um ato de graça. A quarta etapa da exposição sobre a justiça de Deus afirma que o modo como Deus justifica os pecadores mantém a sua justiça e santidade (25b,26).
Ele justificou pessoas como Abraão e Davi, sem remover toda a pena por seus pecados. Essa pena agora foi paga por Cristo na Cruz, revelando que Deus é justo tanto por ignorar esses pecados anteriormente cometidos (25b) como por justificar os pecadores no tempo presente (26a). Em uma frase que resume todo o parágrafo, Deus é agora visto como o que é justo e justificador daquele que tem fé em Jesus (26b).

“Somente pela fé” (3.27-31)
Os judeus tinham a tendência de contar com suas obras como base para seu relacionamento com Deus (9.30-10.3, cf. Ef 3.2-9). A provisão da justiça de Deus “independentemente das obras da lei” (28) e mediante a fé em Jesus Cristo (21,22) revela a insensatez do orgulho por tal realização. Foi de todo excluída, Paulo alega, pela lei da fé.
Nos v. 29-30 Paulo cita o ensino central dos judeus sobre a unicidade de Deus (Dt 6.4) como mais um argumento a favor da exclusividade da fé. Pois se Deus deve ser verdadeiramente o Deus de todos os seres humanos, então todos os povos devem ter igual acesso a ele, e pelos mesmos meios. A lei de Moisés, a Torá, não pode mais continuar sendo um muro divisório entre judeus e gentios (Ef 2.11-22). Deus justifica tanto circuncisos (os judeus) como incircuncisos (os gentios) pela fé.

“Somente pela fé”: a fé de Abraão (4.1-25)
Paulo cita Abraão para mostrar que sua ênfase na justificação pela fé não era uma doutrina nova, mas sim algo que as Escrituras ensinaram desde o principio e para deixar absolutamente claro o que de fato é fé.Paulo discute a questão fé versus obra. O texto de Gênesis 15.6, torna-se a base para a exposição de Paulo. Ele mostra que esse fato que “lhe foi imputado para justiça”, justamente por se basear na fé, exclui as obras (4-8), e a circuncisão (9-12) e alei (13-17). Ele detalha a natureza e a força dessa fé que levou Abraão à justiça (18-21) antes de citar o seu texto, mas uma vez (22) deixando clara, assim, a sua aplicabilidade aos seus leitores (23-25).
O propósito de Paulo nos v. 4,5 é contrastar fé e obras. As obras de um lado implicam uma situação de obrigação. Uma pessoa que “trabalha” recebe um salario que o empregador é obrigado a pagar. A fé por outro lado, implica uma situação em que algo é concedido por liberalidade. Como um ato humilde de aceitação, a fé não exige nada do doador nem obriga o doador a uma reação. Aqui Paulo nos lembra de uma das grandes verdades das Escrituras: que as pessoas não têm direito de reivindicar a atenção de Deus. A possibilidade de nos relacionarmos com Deus é uma dádiva gratuita a ser aceita com fé e humildade.

O EVANGELHO E O PODER DE DEUS PARA A SALVAÇÃO (5.1-8.39)
    Muitos chamam a estrutura dos capítulos 5-8 de “composição em cruz e outros de “quianismo”, no qual há certa correspondência entre o primeiro e o ultimo elementos, bem como entre o segundo e o penúltimo elementos e assim por diante:
5.1-11 Certeza da glória futura
   5.12-21 Base para essa certeza na obra de Cristo
       6.1-23 Liberto do poder do pecado
       7.1-25 Liberto do poder da lei
   8.1-17 Base para essa certeza na obra de Cristo, mediada pelo Espírito santo
8.18-39 Certeza da glória futura

A esperança da glória (5.1-11)
    Os cristãos que foram justificados mediante a fé agora desfrutam a paz com Deus, um relacionamento no qual nós já não somos mais ameaçados pela ira de Deus, o acesso [...] a esta graça na qual estamos firmes, a participação continua nas bênçãos pela graça de Deus em Cristo.
As dificuldades, longe de ameaçarem nossa paz e segurança, realmente nos dão uma maior garantia delas (3b,4), pois os sofrimentos são usados por Deus para produzir em nos perseverança , a capacidade de resistir. Perseverança produz caráter, a força que resultasomente de severas provações, e o caráter por sua vez produz esperança. Porque Deus trabalha dessa maneira em nossas vidas e porque desejar ansiosamente esse tipo de caráter e de esperança, devemos nos alegrar em nossos sofrimentos (3a).

O reino de graça e vida (5.12-21)
O poder da obediência de Cristo em superar a desobediência de Adão é o grande tema desse parágrafo. Paulo apresenta Adão e Cristo como “figuras representativas”, cujos atos determinam o destino de todos aqueles que a eles pertencem (12a, 18, 19). Paulo pressupõe a verdade do pecado de Adão e o reinado da morte que ele introduz, e ensina que Cristo entregando-se a si mesmo na cruz, estabeleceu de modo semelhante um reino – mas um reino de vida, em vez de morte, um reino de graça (cf. v. 15-17,21) em vez de apenas desertos.
Paulo afirma no v 18 que tanto os efeitos dos atos de Adão como os dos atos de Cristo se estendem a todos os homens. Devemos compreender o universalismo desse verso em termos da importância representativa de cada individuo: os efeitos da ação de Cristo se estende a todos que pertencem a ele, assim como os efeitos da ação de Adão se estendem a todos que pertencem a ele. Todas as pessoas, sem exceção, pertencem Adão; mas apenas aqueles que vêm a ter fé, que “recebem o dom” pertencem a Cristo.(5.12-21)

Libertos da escravidão do pecado (6.1-23)
    Paulo afirma no cap. 6 que os cristãos não são somente libertos em Cristo da pena do pecado – isto é, justificados – mas também do poder do pecado – isto é, santificados. Sem minimizar a ameaça contínua que o pecado representa para a vida cristã, Paulo insiste em que os cristãos foram colocados em uma nova relação em que pecado já não tem poder de nos “dominar”, de nos fazer cativos (cf. v. 6,14,18,22).

“Morte para o pecado” pela união em Cristo (6.1-14)
Morrer para o pecado não significa ser insensível à sua tentação, pois Paulo deixa claro que o pecado continua sendo atraente para os cristãos e deve ser combatido a cada dia (v. 13). Antes significa ser liberto da tirania absoluta do pecado, do estado em que todos vivíamos antes da conversão.
A nossa fé simbolizada pelo batismo, coloca-nos num relacionamento com o próprio sepultamento de Cristo. A verdade básica do argumento de Paulo é bem clara: Uma vez que a própria morte de Cristo foi uma “morte para o pecado” (10), a nossa participação na sua morte (3-6) significa que nós também “para ele [o pecado] morremos” (2).
O batismo, como o v. 4 deixa claro, é o meio pelo qual somos colocados em relacionamento com esses acontecimentos.A nossa identificação com Cristo em sua morte deve ser entendida e posta em prática para que se torne efetiva em subjugar o poder do pecado na nossa vida. Paulo nos exorta a reconhecer quem somos agora em Cristo (11) e a colocar em prática essa nova identidade destronando o pecado do nosso comportamento cotidiano (12,13).

Livres do poder do pecado para servir a justiça (6.15-23)
A afirmação de Paulo de que o cristão não está “debaixo da lei, e sim da graça” (14b) poderia implicar que não há mais regras às quais o cristão deva obedecer, e nenhuma pena para qualquer pecado que ele venha cometer. Ser livre do pecado, segundo Paulo, não significa que os cristãos sejam autônomos, que vivam sem mestre ou sem quaisquer obrigações. Significa sim, uma nova escravidão, mas dessa vez à justiça (18,19) e a Deus (22).
Somente ao dobrar os joelhos diante de Deus uma pessoa pode se tornar o que Deus originalmente pretendia que essa pessoa fosse: “justa” (em conformidade com os padrões de comportamento estabelecidos por Deus) e “santa” (levando uma vida centrada em Deus e renunciando aos padrões mundanos). E o resultado é a vida eterna em cristo Jesus, nosso Senhor (23, cf. v. 22).

Libertos da escravidão da lei (7.1-25)
    Paulo sugere que a lei, assim como o pecado, é de certo modo um “poder” que pertence ao antigo regime da história da salvação, do qual os cristãos devem ser libertados se quiserem aproveitar a vida no novo regime de justiça e de vida inaugurado por Jesus Cristo. O apostolo já sugeriu essa ideia em 6.14,15. Esses versículos fornecem o contexto imediato para a discussão que ele apresenta no capítulo 7.

Libertos da lei; unidos a Cristo (7.1-6)
    A passagem do cristão do domínio da lei para o domínio de Cristo é o ponto central desse parágrafo (4). Paulo chega a este ponto com um lembrete sobre a natureza da lei: ela somente tem poder sobre as pessoas enquanto estiverem vivas. Os v. 2,3 ilustram a verdade desse princípio com a analogia do casamento, e traz duas observações: a morte rompe o relacionamento da pessoa com a lei, e a libertação da lei permite que uma pessoa se uma a outra.Paulo usa a palavra carne no v. 5 para designar não uma propensão da pessoa ao pecado (como sugere a NVI), mas a “esfera de poder” em que a pessoa vive.
Uma vez que a raiz do seu conceito teológico é que aquilo que é típico deste mundo se distingue do reino espiritual, “carne” pode ser utilizado como símbolo do regime antigo. Tal como em 2.29, o contraste entre “letra” (gramma) e o “Espírito” é o contraste entre a lei como poder determinante da antiga era e o espírito o agente reinante da nova.
   
A história e a experiência dos judeus soba alei (7.7-25)
Em 7.1-6 Paulo disse     muitas coisa negativas sobre a lei, diante disso podemos imaginar que alguém pense que Paulo encara a lei como má. Paulo sabia disso e então introduz uma digressão sobre a lei na qual se protege contra essa falsa interpretação. Ele defende a qualidade positiva da lei ao demonstrar que os efeitos negativos que ela produz se devem não a lei em si, mas ao poder do pecado e a fraqueza humana.
    O paragrafo que fala sobre a vinda da lei (7-12) atinge dois propósitos: afirmar e sustentar, contra um possível equívoco (7a), que a lei de Moisés, ou seja, o mandamento é santo, justo e bom(12) e explicar a relação entre a lei e o pecado (7b-11). Paulo afirma que pela lei ele conheceu o pecado e não só isso, a lei com sua apresentação clara dos mandamentos de Deus, deu a pecado a oportunidade de incentivar a rebeldia contra Deus e deixou totalmente clara sua propensão ao pecado e a morte. O que Paulo estaria dizendo é que a entrega da lei de Moisés a Israel significou para eles não a vida (como alguns rabinos ensinavam), mas a morte, pois a lei de Moisés, ao estimular o pecado “trouxe a ira” deixando mais clara do que nunca a distância que separava os judeus de Deus.
    A segunda parte da digressão de Paulo sobre a lei (13-25) fornece um “elo perdido” na argumentação em 7.7-12: a fraqueza dos seres humanos como a razão pela qual o pecado pôde usar a lei para trazer a morte. A lei embora espiritual não possa libertar as pessoas do domínio do pecado e da morte (21-25), porque elas são carnais (14) incapazes de obedecer à lei que admitem ser boa (16).
O fato de a lei ser espiritual(sarkinos), mas que “eu” sou carnalprepara o terreno para o conflito nos v. 15-20. Reconhecer o lado bom da lei e o desejo de obedecê-la é algo que se contrapõe à incapacidade de cumprir de fato a lei na prática. O prazer na lei de Deus – como é típico do povo judeu – depara com a força de outra lei. Enquanto alguns entendem essa “outra lei” como sendo outra função da lei de Moisés, a palavra outra (heteros) sugere que Paulo tem em mente uma “lei” distinta da lei de Moisés. Essa “lei” é a força ou o “poder” do pecado que Paulo coloca frente a frente com a lei de Deus (v. também 3.27; 8.2).

A garantia da vida eterna (8.1-30)
    Romanos 8 é bastante conhecido por seu foco no Espírito Santo. A palavra “espírito” (pneuma) ocorre 21 vezes no capítulo e em todas elas com exceção de duas (15a; 16b), refere-se ao Espírito Santo. Contudo o espirito santo não é o tema do capítulo; a certeza de vida eterna que o Espírito ajuda a garantir é o verdadeiro tema de Paulo. Paulo mostra como o Espírito confere ao cristão (1-13) a adoção na família de Deus (14-17) bem como a certeza da esperança da glória (18-30).

O Espírito da vida (8.1-13)
A libertação dos cristãos da condenação – a pena de morte por causa do pecado sob a qual todas as pessoas vivem – ocorre em virtude da nossa união com Cristo (5.12-21). Os versículos 2-4 explicam que essa libertação foi realizada pelo trino: o Pai envia o Filho como uma oferta pelo pecado por nós (3) e, com base nisso o Espírito nos liberta do poder do pecado e da morte (2) e assegura o cumprimento da lei em nosso favor (4).
As “leis” contrastantes do v. 2 podem se referir a duas operações distintas da lei mosaica, que funciona para aprisionar as pessoas quando vista estritamente como uma exigência de obras, mas que opera para libertar as pessoas quando elas a entendem corretamente como uma exigência por “obediência fiel”.
    Os versículos 12,13 encerram essa seção com um lembrete prático: a obra do Espírito em nos garantir vida não significa que podemos ser passivos com relação à nossa obrigação de manifestar a vida do Espírito Santo na nossa vida diária. Somente quando nos submetermos ao controle e à direção do Espírito, afastamo-nos do estilo de vida “carnal”, seremos capazes de viver (13).
   
O Espírito da adoção (8.14-17)
Assim como a “vida” é a ideia central dos v. 1-13, a filiação ocupa o centro desses versículos. Ser filho de Deus explica não somente porque o Espírito de Deus nos confere vida (13,14), mas também porque se diz que também que somos herdeiros com uma perspectiva gloriosa para o futuro (17,18). Ser guiado pelo espírito de Deus (14) não significa ser guiado pelo Espírito na tomada de decisões, mas estar sob a influência dominante do espírito (Gl. 5.18). Paulo pode afirmar que aqueles guiados pelo espírito são filhos de Deus e por isso destinados a vida (13), porque filhos de Deus é um título que a Bíblia atribui ao povo de Deus.
    A nossa adoção na família de Deus, embora maravilhosa e confortante, não é o fim da história. Pois ser filho significa também ser herdeiro: estar ainda aguardando a plena concessão de todos os direitos e privilégios conferidos a nós como filhos de Deus. Do mesmo modo que o Filho de Deus teve de sofrer antes de entrar na sua glória (1Pe 1.11), também nós, filhos de Deus por adoção, devemos sofrer “com ele”, antes de compartilharmos da sua glória.

O espírito da Glória (8.18-30)
O tema da esperança da glória dos cristãos emoldura esse parágrafo, aparecendo no seu inicio (18) e final (30) e é seu grande tema. Os crentes ao enfrentar a necessidade de “sofrer em Cristo” neste mundo, podem mesmo assim estar confiantes e seguros, sabendo que Deus está determinado anos conduzir à nossa herança (18,22,29,30), que ele em sua providência está trabalhando em nosso favor (28) e que nos deu seu Espírito como certeza da nossa redenção (23).
Paulo nunca minimiza o fato ou a severidade do sofrimento dos cristãos neste mundo. Mas esse sofrimento deve ser encarado como algo insignificante, em comparação à glória que será revelada em nós.A nossa alegria não virá de saber que nunca iremos enfrentar dificuldades – pois certamente enfrentaremos (17) – mas de saber que sejam quais forem as dificuldades, nosso pai amoroso está agindo para fazer com que nos tornemos cristãos mais fortes.
Paulo descreve aqueles por quem Deus trabalha a partir do ponto de vista humano (aqueles que amam a Deus) e do ponto de vista divino (que foram chamados segundo o seu propósito, 28). O chamado de Deus não é simplesmente seu convite para as pessoas aceitarem o evangelho, mas sua efetiva convocação de pessoas para um relacionamento com ele (v. e.g. 4.17; 9.12,24). Essa convocação tem lugar segundo esse propósito, em última análise, é sermos conforme à imagem do seu Filho (29). É significativo que o verbo “glorificar”, no v. 30, esteja, como os outros (“chamar”, “justificar”), no passado, sugerindo que, embora a obtenção da glória seja futura, já foi concretizada a determinação de Deus no sentido de que iremos obtê-la.
   
A celebração da segurança do crente (8.31-39)
Ninguém é capaz de ser bem sucedido em alguma acusação contra nós que tenha a intenção de nos levar à condenação no juízo, pois é o mesmo Deus, o Deus que nos justificou e escolheu a nós e ao seu próprio Filho, que reponde a qualquer acusação contra nós.
Separar-nos do amor de Deus é algo tão impossível quanto fazer uma acusação contra nós. Nenhum perigo ou desastre desse mundo pode fazê-lo (35b,36), nem qualquer poder espiritual (38). Na verdade não há nada em toda a criação que pode nos retirar do novo domínio, no qual o amor de Deus em Cristo reina sobre nós.

O EVANGELHO E ISRAEL(9.1-11.36)
    Os estudiosos frequentemente têm considerado que estes três capítulos tem pouca conexão com o tema verdadeiro de romanos. Mas o tema desses capítulos é o lugar de Israel no plano da salvação de Deus, e esse está estreitamente ligado aos interesses de Paulo em Romanos.  Ele quer deixar claro que a vinda de Jesus Cristo e do novo regime da história da salvação que ele inaugurou não são inovações no plano de Deus para a história, mas sua culminação almejada. Do principio ao fim Paulo está preocupado em mostrar que as promessas de Deus ao seu povo – desde que corretamente entendidas – permanecem complemente intactas.

A questão: a angústia de Paulo em relação a Israel (9.1-6a)
A afirmação da certeza do cumprimento das promessas de Deus para os cristãos leva Paulo a levantar a questão das promessas de Deus para Israel. Os v. 1-3 mostram que essa era uma questão intensamente emocional para Paulo, pois ele nunca perdeu o seu senso de identificação com seus contemporâneos judeus.
A emoção de Paulo diante da incredulidade dos judeus tem uma base diferente e talvez mais profunda: a incongruência entre o estado atual dos judeus e seus privilégios maravilhosos (4,5). O auge dos privilégios dos judeus é o fato de que Cristo, o Messias prometido vem deles. Mas essa é a história do ponto de vista humano; do ponto de vista divino, esse mesmo Cristo é o próprio “Deus”.
Os privilégios que Paulo enumerou tem origem no próprio Deus e podem ser tomados por muitos judeus como certos – a salvação dos judeus em geral. É esta salvação que o evangelho especificamente põe em questão e ao fazê-lo suscita a pergunta que é central nesses capítulos: Teria Deus abandonado suas promessas a Israel? (6a).

O passado de Israel (9.6b-13)
Em sua primeira resposta Paulo argumenta que a palavra de Deus sempre prometeu salvação somente àqueles a quem soberanamente escolheu e utiliza a história de Israel para defender seu argumento, mostrando que pertencer ao povo de Deus não depende nem do nascimento nem de qualquer coisa que a pessoa faça, mas do chamado de Deus.
Há segundo Paulo sugere, em consonância com a teologia do “remanescente” do AT, um Israel espiritual dentro do grande Israel étnico. Paulo usa textos do AT para ilustrar o principio da soberania de Deus na salvação: ser filho de Deus (cf. v. 7-9) depende em ultima instancia do chamado de Deus. O fato de “amar” Jacó e “aborrecer” Esaú são maneiras de descrever em termos fortemente contrastante a realidade de Deus eleger para a salvação e excluir da salvação, respectivamente.

Objeções: a liberdade de Deus (9.14-23)
A ênfase de Paulo na soberania de Deus na salvação suscita algumas objeções. Paulo lida com duas delas nessa seção: Não seria deus injusto por escolher alguns e rejeitar outros? (14) E como as pessoas podem ser responsabilizadas por rejeitar a Deus se ele mesmo determina tal rejeição? (19).
Para a primeira pergunta ele mesmo a faz: Há injustiça da parte de Deus?e cita de novo o AT para apoiar seu ponto de vista (15), mas o texto que Paulo cita – Êxodo 33.19 – parece simplesmente reiterar a livre e soberana ação de Deus. Mas talvez esse seja o ponto de Paulo: que as ações de Deus não podem ser julgadas para além de sua própria natureza revelada nas Escrituras.
Quanto à segunda pergunta Paulo demonstra que ele mesmo não tem uma resposta satisfatoriamente lógica para ela. Para Paulo a soberania de Deus na rejeição e a responsabilidade do homem por essa rejeição (1.20-2.11; 9.30-10.21) devem ser mantidas como duas verdades complementares, verdades que não devem ser utilizadas para desvalorizar uma a outra. Aqui Paulo simplesmente contesta o direito de alguém jugar os caminhos de Deus. Ele é o oleiro que tem pleno poder sobre os vasos que ele cria (v. 22,23; Jr. 18).

Deus chama um novo povo (9.24-29)
Ainda que o v. 24 esteja gramaticalmente ligado aos v. 2223, ele retoma o tema com que Paulo começou essa seção: O chamado de Deus. Nos v. 7-13Paulo mostrou como Deus chamou de dentro do Israel étnico, um pequeno numero de judeus que formaram o Israel espiritual. Agora ele mostra que esse chamado soberano de Deus criou no momento presente um povo novo, composto por gentios (25,26) e por um remanescente judeu (27-29).

O PRESENTE DE ISRAEL: DESOBEDIÊNCIA (9.30-10.21)
    O segundo argumento de Paulo em defesa da proposição de que a palavra da promessa de Deus a Israel não falhara (9.6a) é o que o próprio Israel por sua incapacidade de responder adequadamente à palavra de Deus é o culpado por sua exclusão do povo de Deus. A incredulidade da maioria dos contemporâneos judeus de Paulo se deve tanto à eleição soberana de Deus (9.6b-29), quanto a sua recusa culpável em crer. A eleição divina incondicional e a responsabilidade humana se encontram lado a lado, e não se deve admitir que uma elimine ou atenue a outra.

A justiça de Deus e a justiça da lei (9.30-10-13)
    Um contraste entre dois tipos de justiça domina essa seção: a justiça de Deus (10.3), uma justiça disponível somente por meio da fé (9.30; 10.4,6,10), e a “justiça” própria de alguém (10.3), uma justiça que está relacionada  estritamente a lei (9.31; 10,5) e as obras (9.32).
    Depois de reafirmar seu profundo anseio pela salvação de seus irmãos judeus (cf. 9.1-3), Paulo culpa os judeus por não terem o conhecimento dos caminhos e propósitos de Deus que corresponda a seu zelo inegável (1-4).
Utilizando a linguagem da corrida em 9.30-33, Israel estava correndo com determinação, mas não em direção à verdadeira linha de chegada. Essa linha de chegada é a justiça de Deus (3). Voltados para a busca de sua própria justiça, a justiça que vem pelas obras (9.32) e pela lei (10.5), os judeus não tinham submetido e não estavam dispostos a aceitar, em fé, a maneira de Deus estabelecer um relacionamento com as pessoas.
Os judeus não conseguiram entender que Cristo é, em si mesmo, a “culminação” da lei. Cristo segundo Paulo, sempre foi o objetivo para o qual a lei apontou; e uma vez que o objetivo já foi atingido – Cristo veio – a busca da lei não deveria ser um fim sem si mesmo. O que o AT atribui à lei Paulo agora entende ter-se “cumprido” em Cristoe na mensagem do evangelho: a pronta disponibilidade do meio que leva à justiça.
Deus agora trouxe para bem perto a sua palavra para o povo na mensagem do evangelho da morte e ressurreição de Cristo, e isso revela duas implicações: Deus já “fez” o que é necessário para garantir a justiça, tudo o que as pessoas precisam fazer e crer e o evangelho está “perto” de todos, não apenas dos judeus. O reconhecimento de que Jesus é o Senhor é o elemento que Paulo claramente pretende destacar: a atitude de crer no coração (cf. 2.28,29).

Israel não tem desculpas (10.14-21)
Paulo mostrou que o fato de Israel não obter a salvação deve ser atribuído á sua incapacidade de crer, e não a alguma falha da palavra de Deus. As condições para crer no evangelho e encontrar a salvação foram cumpridas (14,15,17,18). A culpa então é de Israel por se recusar a ser obediente (16) e por deixar de compreender o próprio AT, que profetizou o que agora Deus fez no evangelho (19.21).
Paulo mostra tanto por Moisés (Dt. 32.21) como por Isaías (65.1) que Deus tinha planejado o tempo todo incluir os gentios o seu plano de salvação e fazer deles o seu povo (cf 9.2426). Continuando sua citação de Isaías (65.2), Paulo conclui esta seção de seu argumento lembrando a seus leitores de dois fatos principais: Deus tem estendido constantemente a palavra de sua graça, o evangelho, ao povo de Israel, mas este por sua vez tem sido um povo rebelde e contradizente.

O presente de Israel: “um remanescente pela graça” (11.1-10)
    Paulo retorna ao tema do remanescente dos judeus que continua sendo parte do povo de Deus, deixando claro que ainda que uma parte significativa do povo de Israel se endureceu (7-10; cf. 9.30-10.21) ainda há um remanescente segundo a eleição da graça (5), judeus que creram em Cristo.
Paulo demonstra novamente sua sensibilidade em relação à forma como o seu ensinamento poderia ser interpretado ao levantar a questão: Terá Deus, por ventura, esquecido seu povo? (1). Que Deus rejeitou Israel como seu povo poderia muito bem ser a conclusão extraída do argumento de Paulo de que pertencer ao povo de Deus depende totalmente do “chamado” soberano de Deus e não da descendência física de Abraão (9.6-29).
Deus não rejeitou o seu povo a quem ele de antemão conheceu (2a; cf. Sl 94.14). Paulo está não apenas afirmando a eleição para a salvação do remanescente (cf. 9.6-9; 11.3-6), mas também está afirmando a contínua eleição de Israel como um todo (cf. 11.28,29).O remanescente existe somente como fruto da graça de Deus, e não pode se pode participar dele pelas obras(6).
Assim como é a intervenção de Deus que traz a salvação aos eleitos (graça no v. 6), assim é pelo ato de Deus que os mais (os outros) não conseguiram alcança-la, pois eles foram endurecidos. Enquanto Israel continua a ser plenamente responsável por sua falta de aceitação do evangelho, Paulo deixa claro que, de maneira misteriosa, Deus está por trás dessa incapacidade de aceita-lo.

O futuro de Israel (11.11-32)
    A incredulidade da maioria dos judeus contemporâneos de Paulo não deve nos cegar para o fato de que o “endurecimento” de Israel nem é total (no tempo de hoje sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça; 5) nem é definitivo (todo o Israel será salvo, 26). A previsão da salvação futura de Israel é o foco dessa seção de Paulo e o auge de sua discussão sobre Israel e o evangelho. Paulo conduz a discussão para esse tema, mostrando como Deus está usando a incredulidade atual de Israel para realizar seu plano de salvação do mundo (11-24).

Judeus e gentios no plano de Deus (11.11.24)
Israel como nação tropeçara: não conseguiu ter fé em Cristo, o meio escolhido por Deus para prover a justiça (cf.9.33; 10.2-4). Mas o tropeço de Israel não levou a uma ruina irreparável. Pois a transgressão dos judeus deu inicio a um processo pelo qual eles ficarão com ciúmes e serão conduzidos por fim a salvação (11b; cf. 11.26).
O fato dos judeus terem recusado o evangelho , segundo Paulo deixa implícito, abriu o caminho para pregação aos gentios. Assim quando os judeus veem os gentios desfrutando da benção de Deus, ficam por sua vez, enciumados, como está previsto em Dt. 32.21, que Paulo cita em 10.19. Paulo coloca a incredulidade dos judeus no contexto da revelação do plano de Deus para salvação de todo o seu povo. Esse plano envolve uma alternância entre judeus e gentios em três estágios: (i) a transgressão dos judeus abre caminho para (ii) a salvação dos gentios, o que redunda no final (iii) na salvação dos judeus.
Ao final dessa seção (23,24) Paulo retorna ao ponto em que começou (12,13), utilizando a imagem da oliveira para dar esperança à salvação futura dos judeus. Embora no presente estejam quebrados (17-20), esses ramos naturais continuará a compartilha a santidade da raiz da qual se originaram (6b).
Então de modo muito mais rápido que do que os gentios, que são enxertados contra a natureza, os judeus podem ser enxertados novamente na oliveira de Deus. Mas isso só pode acontecer se os judeus não permanecerem na incredulidade. Conquanto a salvação final de Israel seja certamente obra de Deus, ela não pode ocorrer sem a resposta de fé que Deus sempre estabeleceu como pré-requisito para se desfrutar de suas bênçãos.

“Todo o Israel será Salvo” (11.25-32).
A esperança de uma restauração futura de Israel com que Paulo acenou ao longo dos v. 11-24 é agora afirmada na forma de revelação de um mistério. O componente principal desse mistério agora revelado por Paulo é a maneira pela qual Deus está agora trabalhando com os gentios (cf. Ef. 3.1-10).
Assim não é nada surpreendente que Paulo chame de mistério a alternância entre judeus e gentios no plano de Deus para a salvação. O endurecimento dos judeus por Deus, como Paulo demonstrou nos v. 3-10, é parcial (26), pois alguns judeus estão vindo para Jesus e sendo salvos, mas essa limitação dessem endurecimento durará até que o número de gentios determinados por Deus tenha entrado no Reino de Deus (cf.Lc. 21-24) e é provável que a salvação de todo o Israel (26) deva acontecer após ter entrado a plenitude do número dos gentios.
Paulo está descrevendo um evento que terá lugar no final da história, quando cristo retornar em glória, quando virá de Sião o Libertador e serão tirados os pecados de Israel (26b 27). Todo Israel tem um sentido coletivo: não quer dizer cada judeu da última geração, mas, em contraste com os escassos números atuais, um número suficientemente grande para representar a raça como um todo.
     Paulo conclui seu exame do passado, presente e futuro de Israel com um hino de louvor ao Deus cujos caminhos estão além do nosso entendimento e crítica. A sabedoria e o conhecimento de Deus (33) referem-se particularmente a revelação de seus propósitos em Cristo (Ef 3.5,10; Cl. 2.3). Podemos não entender todos os detalhes desse plano e podemos até ser tentados a algumas partes dele, mas como Paulo nos lembra com as citações do AT nos v. 31,35 (Is 10.13; e Jó 41.11a), qualquer crítica de nossa parte, meros mortais, está completamente fora de questão. Pois Deus é a fonte (dele), o sustentador (por meio dele) e o objetivo (a ele) de tudo. Diante desse Deus sábio e soberano a nossa resposta só pode ser a de Paulo: A ele, pois, a glória eternamente!

O evangelho e a transformação de vida (12.1-15.13)
Paulo mostrou que o evangelho que ele prega tem o poder de transferir os cristãos do reino pecado e da morte para o reino da justiça e da vida. Deus está trabalhando para nos transformar a imagem do seu Filho (8.29), mas devemos participar desse processo empenhando-nos para tornar real essa transformação na nossa vida cotidiana. Uma nova forma de viver não é consequência desse evangelho, mas parte desse evangelho, cujo propósito é produzir a obediência por fé (1.5).
O apelo inicial de Paulo capta a essência do que significa viver como cristão (12.1,2). Então seguem apelos específicos relativos àunidade e aos dons(12.3-8), o amor aos companheiros tanto fiéis quanto incrédulos (12.9-21), as atitudes para com as autoridades (13.1-7) e novamente o amor (13.8-10). Paulo encerra essa seção da carta com uma exortação longa ao forte e a fraco na igreja de Roma (14.1-15-13).

 O cerne da questão: Uma mente renovada (12.1,2)
    A convocação de Paulo para que transformemos nossa vida não acontece em um vácuo. É apenas na perspectiva das misericórdias de Deus que o seu apelo se torna relevante e que nossa obediência a ele se torna possível. Quando reconhecemos tudo que Deus fez por nos em seu Filho, como Paulo analisou nos capítulo 1-11, percebemos que oferecer-nos como sacrifício vivo é na verdade um ato razoável de adoração, ou seja, um culto racional. Paulo nos encoraja a considerar toda a nossa vida cristã como um ato de adoração, não é apenas o que fazemos no domingo, dentro de uma igreja, que “atribui valor” a Deus, mas o que Deus e o mundo veem em nós a cada dia e a cada momento da semana.
    O v. 2 explica de forma mais detalhada como esse oferecimento de nós mesmos deve ser feito. O que se quer é nada menos que uma transformação total da nossa visão de mundo. Já não devemos olhar para vida nos termos deste século, o domínio do pecado e da morte do qual fomos transferidos pelo poder de Deus (cf 5.12-21). A essência da vida cristã bem-sucedida é a renovação de nossa mente de modo que possamos ser capazes de provar qual a vontade de Deus, isto é, reconhecer e pôr em prática a vontade de Deus em todas as situações com que nos deparamos. Deus nos deus o seu Espírito, que está operando para transformar nosso coração e mente por dentro, de modo que nossa obediência a Deus possa ser natural e espontânea (cf. 7.6; 8.5-9; Jr 31.31-34: 2 Co 3.6,7; Ef 4.22-24).

Humildade e dons (12.3-8)
    Paulo nos exorta anão pensarmos de nós mesmos além do que convém, mas olhar para nós mesmos de maneira honesta e objetiva. Devemos medir-nos a nós mesmos e não uns aos outros, pela medida da fé(metronpisteõs). Alguns estudiosos entendem que essa expressão designa diferentes porções da fé que Deus deu a cada um de nós. O contexto no entanto sugere que Paulo está falando aqui da nossa fé cristã comum, segundo a qual cada um de nós deve medir-se a si mesmo.    Deus deu dons diferentes aos membros da igreja , o corpo de Cristo (4,5), é necessário reconhecer a beleza da diversidade e complementariedade dadas por Deus e conduzidas pelo Espírito dentro da igreja.
Paulo menciona dos específicos em duas outras passagens (1Co 12.7-11,28; Ef 7.11), e uma comparação desses textos revela que em nenhum deles ele está buscando fornecer uma lista exaustiva. Antes, em cada passagem, Paulo seleciona exemplos que serão relevantes para o seu propósito. O objetivo de Paulo neste momento é incentivar cada cristão a usar seus dons de maneira enérgica e apropriada e a não se preocupar com os dons que os outros possam ter, ou com a maneira como possam estar utilizando.

Amor (12.9-21)
    Esses versículos tem um tema central: a exigência de amar aos outros, anunciada no v. 9, e que apresenta como um título de toda a seção. Embora nenhuma demarcação rígida seja possível, podemos dividir esse parágrafo em duas secções principais: v. 9-16 e 17-21. A primeira seção tem seu foco voltado para as responsabilidades dos cristãos para com os outros cristãos, enquanto a segunda (pronunciada no v. 14) se concentra no relacionamento com as pessoas que se encontram fora da igreja.
    O amor sem hipocrisia é o amor verdadeiro, sem fingimento (v. também 2Co. 6.6; 1 Tm 1.5; 1 Pe 1.22, do tipo que nasce do coração e da mente renovados. Detestai o mal, apegando-vos ao bem (9) pode explicar o que é o amor sincero, mas são provavelmente ordens independentes. Começando no v. 10 Paulo encoraja os cristãos a procurar o amor sincero e fazer o bem em seus relacionamentos com outros cristãos.
O zelo (v. 11) com Deus e com as coisa de Deus deveria caracterizar os cristãos como fez com o nosso Senhor (v. Jo 2.17).  Tal zelo, estimulado pelo Espírito levará o cristão a servir verdadeiramente ao Senhor. Paulo lembra aos cristãos brevemente (12) a atitude correta em relação a esperança, as tribulações e a oração. O amor sincero também conduz a passos práticos na ajuda aos cristãos que passam necessidade (13; v. também 1Jo 3.17,18).
    Fica evidente a relação entre mandamento de Paulo abençoai os que vos perseguem e o ensino de Jesus no Sermão do Monte (5.44). O mandamento de Jesus provavelmente se tornou o elemento principal da instrução da igreja cristã primitiva (v. também 1 Pe. 3.9). O envolvimento empático com as alegrias e sofrimentos dos demais irmãos é a marca do amor sincero para com irmãos e irmãs (10).
Na ultima seção desse parágrafo (17-21) Paulo convoca os cristãos para que demonstrem amor sincero (9) para com aqueles que se opõem a eles. Lembrando novamente os ensinamentos de Jesus Paulo proíbe retaliações (17a; cfv. 19) e os incentiva a terem uma reação positiva: “Esforçai-vos por fazer o bem perante os homens”. A paz com os outros nunca deve ser adquirida ao preço de nossas convicções e testemunhos cristãos, assim ele acrescenta a qualificação quanto depender de vós.
Devemos nos lembrar que servimos a um Deus justo e soberano, um Deus que prometeu vingar as injustiças daqueles que são maltratados neste mundo (Dt 32.35). Devemos, portanto, não achar necessário assumir o papel de vingadores, mas sim dar lugar a ira de Deus (Deixem com Deus a ira). O v. 21: Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem, é uma conclusão adequada desta seção (17-21), e indiretamente de todo o trecho dos v. 3-20.

A responsabilidade cristã em relação ao governo (13.1-7)
    Paulo não conecta de maneira explícita esse parágrafo com o anterior, e isso levou alguns estudiosos a pensar que ele fosse talvez um acréscimo posterior pós-paulino ao texto de Romanos. Mas não evidência textual para uma interpretação tão drástica. A passagem se encaixa perfeitamente no contexto: submissão às autoridades é parte da “boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (12.2b) que Paulo estava descrevendo, e é um exemplo concreto de “fazer o bem perante todos os homens” (12.17b). Tal submissão é exigida, Paulo argumenta, porque as autoridades governamentais são estabelecidas por Deus para servir aos seus propósitos de recompensar o bem e punir o mal (b-4,5b).
    As autoridades (no grego exousiai) claramente são as pessoas em posições de autoridades nos governos seculares; na época de Paulo, é claro especialmente os oficiais romanos imperiais e provincianos. Paulo nos lembra que cada autoridade foi instituída (tetagmenai), por Deus, sendo assim, ministro de Deus, ainda que indireta ou inconscientemente (4.6). As autoridades governamentais servem a Deus ao proteger os que fazem o bem (3b, 4a) e ao punir os que praticam o mal (3a, 4b).
No entanto, a ordem aparentemente absoluta para se fazer o que as autoridades pedem que façamos cria problemas para a maioria dos cristãos. Alguns estudiosos argumentam que Paulo está ordenando obediência apenas quando ele está cumprindo suas funções de recompensar o bem e punir o mal. Uma alternativa mais atraente é que a exigência de Paulo de que os cristãos se sujeitem as autoridades significa simplesmente que eles reconhecem o lugar legítimo da autoridade na hierarquia das relações estabelecidas por Deus, uma hierarquia em cujo topo se encontra o próprio Deus. Quando, no entanto, o governo usurpa o lugar de Deus e nos manda fazer algo contrário ao nosso Senhor, somos livres, aliás, obrigados a desobedecer.
Esse ponto de vista, no entanto pode enfraquecer indevidamente o significado de “submeter-se”. Talvez a melhor solução então, seja entender 13.1-7 como uma declaração geral sobre as formas de os cristãos se relacionarem com as autoridades, sendo que há exceções a esses conselhos presumidas, embora não detalhadas aqui.

O amor e a lei (13.8-10)
    A primeira parte do v. 8 é transicional. A ninguém fiqueis devendo alguma coisa repete uma implicação importante extraída da necessidade de os cristãos se submeterem ás autoridades (cf. v. 7a), e é a base para o lembrete de Paulo que os cristãos têm uma dívida que nunca poderão pagar: o amor com que vos ameis uns aos outros. Paulo retoma o tema do amor (cf. 12.9-21), destacando sua importância ao apresenta-lo como cumprimento (8 e10) ou a síntese (9) da lei mosaica.
O que Paulo quer dizer quando insiste que a obediência a esse mandamento “cumpre” ou “sintetiza” todos os outros mandamentos não é a noção de que tudo que temos de fazer para agradar a Deus é “amar” – como se disso decorresse que basta ter um sentimento de amor e se pode fazer o que se quer, ou que o amor é o mandamento mais importante da lei. Antes ele está dizendo que os cristãos agora cumprem as exigências da lei de Moisés (pelo menos as que dizem respiro às nossas obrigações para com as pessoas) pelo amor. Pois o amor está no cerne d a “lei de Cristo” (Gl. 6.2 cf. 1 Co. 9.21,21), a lei de Jesus tornou reguladora a vida no novo mundo em que vivemos.

Discernindo os tempos (13.11-14)
    Os cristãos devem discernir o tempo: uma época em que esperamos o alvorecer iminente do dia (12). “o dia do Senhor Jesus”, que trará a nossa salvação final. Paulo deixou claro em 5.9,10, a salvação é um processo que se completará só quando estivermos livres do derramar da ira de Deus no último dia (v. também Fp 1.19; 2.12; 1Ts 5.9). Esse éo motivo do seu
O v. 14 defende a mesma ideia com uma linguagem diferente: devemos nos revestir do Senhor Jesus de tal forma que tudo o que fizermos seja feito por ele e para ele, não devemos sequer dar espaço a qualquer daqueles desejos pecaminosos que se originam nesse mundo caído e pecador (no grego sarx, “carne”, natureza pecaminosa; v. comentário 7.5).

Apelos a unidade (14.1-15-13)
    Em 12.3-13.14 Paulo mencionou componentes gerais da “boa, agradável e perfeita vontade de Deus”, que devem caracterizar os cristãos cuja mente está sendo renovada pelo poder do evangelho (12.12). Agora Paulo discute um assunto específico dentro da igreja romana: a divisão entre aqueles a quem ele chama de fracos (14.1,2; 15.1) e fortes [na fé] (15.1). Estes dois grupos estavam discutindo seos cristãos deveriam ou não comer carne (14.2,6,21), observar dias religiosos especiais (14.5,6) e, possivelmente beber vinho (14.21, cf v.17).
    Devemos então presumir uma situação na qual os cristãos judeus se vangloriavam de sua religiosidade estrita, “condenando” (14.3) os que não adotam o mesmo padrão, enquanto muitos gentios, não encontrando valor em tais práticas, estão ostentando sua liberdade nesses assuntos (15-22) e “discutindo” (14.1) e “desprezando” (14.3) aqueles a quem eles consideram “fracos” em afirmar sua liberdade em Cristo.
    É significativo que Paulo não tenta convencer os fracos de que ele esteja errado. Pelo contrário ele insiste em que os fortes aceitem seus irmãos e irmãs mais fracos (14.1; 15.7) e, na verdade, restrinjam o exercício da liberdade sobre essas questões controversas a fim de promover a unidade e evitar ferir a fé dos fracos (14.13-22). Os fracos também devem deixar de condenar os fortes e aceita-los como irmãos (14.3,13; 15.7).

Reprovação das atitudes críticas (14.1-12)
    Paulo reprova tanto os fortes como os fracos por suas atitudes críticas (1-3) fazendo-os lembrar que eles não tem o direito de julgar aqueles a quem Deus aceitou (4-12).  Cada grupo deve parar de criticar o outro, reconhecendo que todos são servos do mesmo mestre, o único que tem em si o direito de julgá-los (4). É diante de seu próprio mestre (tõidiõkyriõ, provavelmente um dativo de referencia), o Senhor, que cada cristão fica em pé ou cai – isto é, persevera ou falha na fé (cf. 11.20,22). E Paulo está convencido de que aqueles a quem Deus aceitou (3) irão perseverar por que é o próprio Senhor que os sustém (4).
    Paulo relembra aos dois grupos, os cristãos não são autônomos: a sua liberdade deve ser estabelecida em termos de serviço ao Senhor que morreu e ressuscitou por eles (7-9). Deus – não outros cristãos – é aquele perante quem todos os cristãos são responsáveis e perante o qual teremos de responder por nossos comportamentos. Portanto, não é correto que julguemos nossos irmãos, cuja prática em questões discutíveis pode ser diferente da nossa (10-12).

Os limites da liberdade (14.13-23)
    Depois de mais um apelo aos dois grupos – não julguemos uns aos outros – Paulo se volta aos fortes na fé exortando-os: tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo (13) no caminho do irmão mais fraco. Essa é a ideia central da seção, com os v. 14-21 elaborando e explicando essa ordem. Os v. 22-23 tratam de uma maneira mais gral dos dois grupos.
    O forte está criando para o fraco uma situação de pecado ao continuar a ingerir alimento que o fraco considera “impuro”. O próprio Paulo afirma vigorosamente que nenhuma coisa é de si mesmo impura, alinhando assim com o ensinamento de Jesus (Mc. 7.17-19). Paulo entende e deseja que os cristãos em Roma entendam que a vinda de Cristo significa que a lei judaica a respeito da pureza espiritual já não se aplica. Embora Paulo não utilize aqui a palavra, ele está preocupado que a “consciência” dos fracos seja violada (1Co 8.7,10) se eles cederem à pressão para ingerirem alimentos que consideram “impuros”.
    Este comer contra a consciência é o que Paulo tem em mente com a “angústia” do cristão mais fraco no v. 15. Dirigindo-se individualmente agora ao cristão forte a fim de elucidar sua tese Paulo o relembra que comer sem preocupação alguma com o efeito que isso terá sobre o mais fraco é uma violação do princípio cristão fundamental do amor (12.9,10; 13.8-10).Além disso, ao encorajar o mais fraco a comer contra a sua consciência, o forte pode fazer perecer aquele por quem Cristo morreu.
    Uma segunda razão para o forte se abster de ostentar sua liberdade é que tal comportamento, por causar tristeza e desunião na comunidade, põe o evangelho em descrédito perante os que não são cristãos. Os incrédulos, ao ver na igreja discussões sobre a comida e a bebida, em vez de justiça e paz e alegria no Espírito Santo (17), não enxergarão o evangelho com bons olhos. O forte deve buscar paz e edificação de uns para com os outros (cf. v. 17; 1Co 10.23). O exercício da liberdade cristã, como Paulo também enfatizou (Gl 5.1; 1Co 6.12), deve ser sempre subordinado às necessidades dos outros.
Paulo completa seu apelo aos fortes recomendando que mantenham para si mesmo o que pensam a respeito dos alimentos, dos dias especiais e bebidas. Não há necessidade de que comam carne na frente de todos os que podem se espiritualmente prejudicados.

O chamado final à unidade (15: 1-13)
A conclusão do apelo de Paulo por tolerância na igreja romana se divide em quatro partes: um último apelo aos fortes (1-4), uma oração pela unidade entre todos os cristãos em Roma (5,6); um último apelo (com apoio das Escrituras) aos fracos e aos fortes (7-12) e uma oração de encerramento (13).
Os v. 1-4 estão relacionados estreitamente a 14.13-23, na medida em que Paulo, usando a palavra pela primeira vez insta aos fortes (dynatoi) a suportar as debilidades dos fracos (1).O uso da primeira pessoa no plural (nós) mostra que Paulo se inclui entre os fortes (cf 14.14). O termo suportar (bastazein) sugere que os fortes devem fazer mais do que simplesmente tolerar os fracos, eles devem ajudá-los com uma atitude de amor (cfGl. 6.2). Isso é confirmado pelos v. 2,3, que desenvolvem a advertência de Paulo de não agradar-nos a nós mesmo no final do v. 1. O incentivo para agradar ao próximo nos lembra do mandamento do amor (12.9; Lv 19.18) e a alusão ao sacrifício de Cristo em se entregar em benefício dos outros.
O lembrete de Paulo no v. 4 sobre a relevância contínua do que outrora foi escrito (v.4) tem o propósito imediato de justificar a citação no v. 3. Paulo ora ao Deus que dá paciência e consolação (5) que ele acaba de mencionar como a finalidade do Ensino das Escrituras. Não fica claro se o mesmo sentir de uns para com os outros (5) significa concordância entre os fortes e os fracos em assuntos que os dividem ou, o que é mais provável, a aceitação e o respeito mútuos em meio a adversidade de pontos de vista.
Existe uma linha que ensina que essa seria uma orientação para que os cristãos imitem o exemplo de Cristo, mas a expressão também poderia significar “de acordo com a vontade de Cristo” (v. 2Co 11.17).O objetivo dessa unidade é claro: unir vozes em adoração fervorosa a Deus. A falta de unidade não somente prejudica a nossa caminhada com Deus e a nossa reputação como aqueles que não são cristãos, como também prejudica nossa capacidade de dar a Deus a glória que ele mercê.
Paulo faz um apelo básico aos cristãos: acolhei-vos uns aos outros (7), o fundamento mais importante para esse apelo como também Cristo nos acolheu, é o propósito mais elevado desse apelo para a glória de Deus.Paulo lembra aos gentios que Cristo continua a se preocupar em alcançar os da “circuncisão”, os judeus. O ministério de Cristo aos judeus, no entanto tem um propósito mais amplo: é feito por causa da fidelidade (aletheia) a suas promessas. Quando essas promessas forem confirmadas, o resultado (9) será que os gentios serão capazes de se juntar aos judeus na glorificação a Deus por sua misericórdia.
As citações nos v. 9b-12 enfatizam a inclusão que Paulo faz dos gentios no povo de Deus. As palavras do Sl 18.49 citadas no v. 9b provavelmente são entendidas por Paulo como palavras do Messias: é anunciado que os gentios se unirão ao Messias quando este cantar louvores a Deus. A presença da comunidade messiânica também é prevista nas Escrituras quando elas dizem que eles se alegrarão em Deus junto com Israel (10; Dt 32.43), cantando louvores ao Senhor (11; Sl 117.1) e colocando a sua esperança no Messias, a raiz de Jessé (12; Is 11.10).
O v. 13 parece quase isolado do contexto anterior, mas a oração de Paulo para que os cristãos sejam cheios de toda alegria e paz nos reporta a 14.17,19. Da mesma forma a ênfase na esperança (v. também v. 4) faz sentido como conclusão de uma discussão que questionou a situação atual da igreja e instou seus membros a dar passos difíceis para melhorar a situação.

A conclusão da carta (15.14-16.27)
    Romanos com as características típicas das seções de encerramento das cartas de Paulo: um esboço dos planos de viagem (15.22-29); um pedido de oração (15.30-32); o desejo de paz (15.33); recomendações e saudações (16.1-15,16b); o ósculo santo (16.16a); saudações finais aos colaboradores e ações de graças e bênçãos (16.20-27). O que diferencia a seção de cerramento de Romanos das demais cartas de Paulo é o espaço longo dedicado a muitas dessas questões e o acréscimo de uma seção em que Paulo explica suas razões de ter escrito a carta (15.14-21).

O ministério e os planos de Paulo (15.14-33)
Em consonância com a sua vontade de estabelecer uma boa relação com os cristãos de Roma Paulo deixa claro que ele está escrevendo não porque há problema grave na igreja de Roma. Ele louva os cristãos romanos por sua bondade e conhecimento (14) observando que eles têm capacidade de admoestar uns aos outros (14) (cf. 1.8b). Paulo não teria feito tais elogios se não acreditasse que a igreja em Roma era basicamente sólida e estável. Todavia, Paulo sabe que até mesmo as igrejas mais maduras precisam ser lembradas da verdade do evangelho (15), e que toda igreja também tem seus problemas, não seria diferente com a de Roma (11.12-27; 14.1-15.13).
Embora evite qualquer insinuação de condescendência ou autoritarismo, Paulo insiste, no entanto que a sua autoridade como um ministro de Cristo entre os gentios (16) se estende aos cristãos romanos (cf. 1.5,6).Paulo descreve seu ministério com a linguagem do culto, ele descreve a sua proclamação do evangelho como um dever sacerdotal e os seus gentios convertidos como oferta aceitável a deus, ou seja, Paulo dá a entender que o culto do AT, com seus sacerdotes e o tabernáculo ou o templo, encontra seu cumprimento no ministério do evangelho (observe 12.1).
O final do v. 19 menciona o poderoso ministério sacerdotal e apostólico de Paulo: desde Jerusalém e circunvizinhança até o Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo. O Ilírico era uma província romana que ocupava uma área aproximada à área ocupada antigamente pela Iugoslávia e Albânia. Jerusalém foi o ponto de partida para as missões cristãs, enquanto o Ilírico era o local mais distante alcançado pela pregação de Paulo.
Paulo “divulgou” (pleroõ; NVI; “proclamei plenamente”) o seu evangelho nessas áreas, pois sua missão era pregar o evangelho não onde Cristo já fora anunciado (20). Sua obrigação de cumprir sua missão ao leste o impedira de vir a Roma até o momento (22). Mas com o término dessa missão, Paulo agora pode satisfazer o seu desejo de longa data de visitar Roma (cf. 1.10-15). Ainda assim Roma seria apenas uma escala para uma viagem a Espanha (24,28). Uma das razões para Paulo parar em Roma foi obter ajuda dos cristãos para a sua viagem.
Antes que Paulo possa colocar em prática o seu plano, no entanto ele tem uma tarefa mais imediata: ministrar (diakonõn, NVI “a serviço dos”) aos cristãos em Jerusalém (25). Esse ministério como os v. 26,27 revelam, é a entrega aos cristãos de Jerusalém de uma oferta em dinheiro recolhida de muitas das principais igrejas cristãs gentílicas plantadas por Paulo. Paulo sentia que era certo que os cristãos gentios retribuíssem com bens materiais (27) que tinham herdado dos judeus (cf11.17,18). Paulo indubitavelmente via essa ajuda como um meio prático de estreitar o relacionamento entre gentios e judeus.
É talvez à luz desse propósito que Paulo pede aos cristãos romanos por orações para o êxito da coleta (30-32). Paulo lhes pede que orem especificamente por duas coisas: que ele possa se ver livre dos rebeldes que vivem na Judéia e que este meu serviço (coleta) possa ser bem aceito pelos santos em Jerusalém. A oração de Paulo para que o Deus de paz esteja com os cristãos romanos (33) é paralela a pedidos semelhantes em muitas de suas outras cartas (2Co 13.11; Fp 4.9; 1 Ts 5.23 2 Ts3.16;cf também 16.20).

Recomendações e saudações (1.1-16)
    A recomendação de um companheiro cristão e as saudações são comportamentos típicos de encerramento das cartas de Paulo. O que não é típico nesse texto é o número sem paralelos de pessoas a quem Paulo saúda: são mencionadas 27 pessoas.
Ao se referir a Febe como uma irmã que está servindo à igreja de Cencréia(uma cidade à oito quilômetros a leste de Corinto), Paulo pode simplesmente estar dizendo que ela é cristã e chamada, como todos os cristãos, a ser uma serva (1) de Cristo e da Igreja (v. 1 Pe. 4.10). Mas, com o acréscimo da expressão com um toque oficial à igreja de Cencréia, é mais provável que Paulo está identificando Febe como alguém que exerce a função de diaconisa (cf. Fp. 1.1; 1Tm. 3.8,12); muitos veem 1 Tm 3.11 como uma referencia a existência de diaconisas).
As saudações de Paulo não obedecem a uma sequencia óbvia, mas talvez comecem por aqueles a quem Paulo conhece melhor e com quem trabalhou pessoalmente (3-7) e terminem com os ele não conhece tão bem (8-15). Paulo saúda nove mulheres nessa passagem, seis das quais são descritas como companheiras de trabalho ou como as que muito [...] trabalhavam no Senhor (12). Nada nas palavras utilizadas por Paulo nos permite identificar a natureza de seus ministérios, mas devemos dar o devido reconhecimento ao papel fundamental desempenhado pelas mulheres nos ministérios variados da igreja primitiva – também nos ministérios de hoje.
O ósculo (16a) como forma de saudação, cumprimento ou despedida era difundido no mundo antigo e foi adaptado pela igreja primitiva (1Co 6.20; 2 Co 12.13; 1 Ts 5.26; 1 PE. 5.14). Deve ser, no entanto, um ósculo santo, totalmente desprovido de qualquer conotação erótica ou pagã.

A advertência acerca dos falsos mestres (16.17-20)
    Tão abrupta é a súbita advertência de Paulo sobre os falsos mestres que alguns estudiosos acreditam que essa passagem não pertence a esta seção da carta. Paulo não deixa claro a quem ele se refere em sua advertência aos cristãos romanos. Ele os descreve como provocadores de divisão e escândalos (cf9.33; 11.9; 14.13) entre os cristãos (17). Eles falam com suaves palavras e lisonjas para tentar enganar os possíveis inocentes eincoutos (18). Eles se preocupam com seu próprio ventre (lit. sua própria barriga), mas mesmo essa indicação mais específica em nada nos ajuda a identificar quem eles eram.
    Sejam eles quais forem Paulo insta aos cristãos romanos a que identifiquem (que noteis bem) e mantenham distância deles (afastai-vos deles, 17). Essa ultima advertência não significava que a igreja deveria excomunga-los (cf. 1 Co 5.1-5), mas que deveria evitar o convívio com eles. Paulo encoraja os cristãos a serem sábios para o bem e símplices para o mal (19b, cf. Mt. 10.16). Ao fazê-lo eles podem ter a certeza que o próprio Deus tomará medidas contra os que estão tentando enganá-los: e o Deus de paz, em breve esmagará debaixo dos vossos pés satanás (20).
Pode ser que Paulo esteja insinuando que esses falsos mestres, vistos como asseclas de satanás, serão rapidamente esmagados. Mas é mais provável que ele esteja pensando aqui no grande clímaxdo final dos tempos quando, em cumprimento de Gênesis 3.15, Deus obterá a vitória triunfal sobre satanás. A paz (20) que Deus por fim criará é resultante tanto da libertação de seu povo como do julgamento dos seus inimigos.

Saudações finais e doxologia (16.21-27)
    Paulo conclui a carta com saudações de três cooperadores (21-23) e uma doxologia (25-27). Timóteo(21) foi um companheiro de Paulo desde o inicio da segunda viagem missionária (At 16.3), e agora está com Paulo em Corinto.Tércio (22), nunca mencionado em outras cartas do NT, é copista de Paulo, ou escriba que anotava as palavras que Paulo lhe ditava. Gaio (23), em cuja casa uma das comunidades cristãs se reunia é quase com certeza o mesmo Gaio mencionado em 1 Coríntios 1.4, e talvez deva ser identificado como Tício Justo em  (At. 18.7).
    A doxologia de Paulo, além de concluir a carta com uma nota sublime de declaração à glória de Deus, também resume de maneira eficaz alguns dos temas principais da carta. A defesa da explicação que Paulo faz do evangelho que prega são, como temos sugerido, o tema central da carta. Paulo agora nos lembra de que é por meio desse evangelho que Deus nos “confirma” em nossa fé (25). Esse evangelho, que proclama Jesus Cristo (a pregação de Jesus Cristo é provavelmente uma explicação), é um mistério que só recentemente foi revelado (25b, 26a).
Se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas (26) é provavelmente um paralelo à revelação e não algo subordinado a ela (como a NVI interpreta): acrescenta uma segunda descrição do evangelho no v. 25, que também  retoma um dos temas principais da carta. A revelação e a difusão do evangelho têm ocorrido sob as ordens do próprio Deus e tem o propósito deque todas as nações possam obedecer por fé. Enquanto continuamos a perseguir a realização desse propósito pela nossa pregação do evangelho, somos lembrados de que isso é para glória final do Deus único e sábio.



REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

•    MOO, Douglas J. Romanos p. 1678-1745 in CARSON, D. A. et all. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo. Editora Vida Nova. 1ª edição, 2009.



CONSIDERAÇÕES SOBRE OS TRABALHOS REALIZADOS

 

Cursar essa disciplina foi muito relevante para minha vida, pois me permitiu aprofundar os conhecimentos acerca da Epístola estudada e mesmo me sentido impactada, para não dizer chocada, com a descoberta de alguns pontos polêmicos de difícil compreensão e aceitação, através da produção do texto sobre a lei e a graça, da leitura do comentário bíblico e de algumas discussões realizadas em sala de aula, faço como fez o apóstolo Paulo que reconheceu a soberania de Deus e se curvou para render somente glória (Rm 11.33) e jamais questionar os propósitos de Deus e os meios utilizados para que o propósito seja alcançado.
Sobre os comentários lidos dois chamaram a minha atenção: o primeiro se refere aRomanos 6.14b no qual o Paulo afirma de que o cristão não está “debaixo da lei, e sim da graça”,alguém pode entender com isso que não há mais regras às quais o cristão deva obedecer, e nenhuma pena para qualquer pecado que ele venha cometer. Ser livre do pecado, segundo Paulo, não significa que os cristãos sejam autônomos, que vivam sem mestre ou sem quaisquer obrigações. Significa sim, uma nova escravidão, mas dessa vez à justiça (18,19) e a Deus (22). Somente ao dobrar os joelhos diante de Deus uma pessoa pode se tornar o que Deus originalmente pretendia que essa pessoa fosse: “justa” (em conformidade com os padrões de comportamento estabelecidos por Deus) e “santa” (levando uma vida centrada em Deus e renunciando aos padrões mundanos).
Podemos observar aqui um paradoxo, por vezes difícil de compreender, Deus nos liberta não para sermos livres, Deus nos liberta do poder do pecado e das paixões pecaminosas, mas nos faz seus escravos, entretanto essa “escravidão” traz a verdadeira liberdade visto que o homem é resgatado ao seu estado original, o de cumprir o propósito para o qual foi criado, viver para glória de Deus, somente vivendo para a glória de Deus o homem poderá de fato se sentir livre e feliz.
O outro comentário é o referente ao texto do capítulo 8 v. 33-35: Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica; 34 Quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós; 35 quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? 36 Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro.
O autor do comentário diz: Ninguém é capaz de ser bem sucedido em alguma acusação contra nós que tenha a intenção de nos levar à condenação no juízo, pois é o mesmo Deus, o Deus que nos justificou e escolheu a nós e ao seu próprio Filho, que reponde a qualquer acusação contra nós. Separar-nos do amor de Deus é algo tão impossível quanto fazer uma acusação contra nós. Nenhum perigo ou desastre desse mundo pode fazê-lo (35b,36), nem qualquer poder espiritual (38). Na verdade não há nada em toda a criação que pode nos retirar do novo domínio, no qual o amor de Deus em Cristo reina sobre nós.
É maravilhoso entender que temos um justo juiz, que pelo sacrifício de Jesus e seu sangue nos justificou e ninguém há que possa nos condenar e muito menos nos separar dele, a semelhança de que sobre uma carta selada só tem poderes o seu destinatário, ninguém pode violá-la sem que receba a devida autorização, fomos selados pelo Espírito de Deus para Cristo e só Ele tem poder sobre nós e se não for com Sua permissão ninguém poderá nos “violar”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PRE - PROJETO REVISTA ELETRONICA